História da menina supostamente amaldiçoada por bater na própria mãe, e que teria se tornado uma serpente monstruosa que vaga pelo cemitério, pode ter sido criada para afastar pessoas do local.
Cemitérios são locais de "descanso eterno", mas esse parece não ter sido o destino de uma jovem supostamente amaldiçoada pela própria mãe, em Águia Branca, cidade com pouco mais de nove mil habitantes no Noroeste do Espírito Santo. Pelo menos, é o que diz uma lenda que deixa os moradores da pacata cidade de cabelo em pé há algumas décadas.
Os imigrantes poloneses chegaram à localidade em 1929 para colonizar o município. Eles construíram, no ponto mais alto de um morro, uma capela e, ao lado, um cemitério destinado a enterrar apenas os próprios imigrantes e seus descendentes.
Ao longo dos anos uma comunidade se desenvolveu ao redor do local e formou o que hoje é o bairro Cristo Rei.
Em 1954, em homenagem aos patrícios poloneses, um monumento em formato de cruz foi construído no centro do cemitério. Conta-se então que rachaduras começaram a aparecer ao redor do local, e as correntes que rodeiam o cruzeiro, constantemente, eram rompidas.
De acordo com o professor aposentado e ex-presidente da Associação Polonesa de Águia Branca, Luiz Carlos Cuerci Fedeszen, de 60 anos, reza a lenda que o local, na verdade, abrigaria os restos mortais de uma menina que agredia a própria mãe, que, por sua vez, teria amaldiçoado a filha, condenando a jovem a se tornar uma serpente monstruosa, com características de um dragão, depois de morta.
"Dizem que uma filha era muito ruim para a própria mãe, a agredia constantemente, causava muita tristeza nessa mãe e, assim que ela [a filha] morreu, ela foi sepultada nesse local. Os vizinhos [do cemitério] começaram a narrar que, a partir desse sepultamento, começaram a ouvir gemidos, barulho de correntes e difundiu-se a ideia de que essa moça teria virado uma serpente, virado um dragão, e um grande número de pessoas deixaram de vir ao cemitério por medo dessa serpente, desse dragão", contou Fedeszen ao g1.
O professor explicou, contudo, que essa lenda pode ter sido criada, exatamente, para afastar pessoas do cemitério, no intuito de diminuir o vandalismo nos túmulos. No entanto, segundo ele, não é possível afirmar, categoricamente, que essa tenha sido a origem da história.
Fedeszen afirmou que, ainda hoje, há quem não visite o cemitério por medo da serpente. Segundo ele, a lenda é tão difundida que faz parte da memória coletiva dos habitantes.
"Essa lenda perpetuou-se na memória do povo da nossa cidade e das cidades vizinhas. Muita gente pergunta: "é verdade que tem uma serpente sepultada lá no cemitério?", "eu não tenho coragem de ir lá, eu tenho medo e etc". Assim, essa lenda está na nossa memória, na memória da população, virou roda de conversa, é narrada nas escolas e virou uma lenda interessante na nossa cidade", explica o professor.