Biólogo explica o que pode estar contribuindo para que a cidade, no Sul capixaba, concentre cerca de um terço de todos os casos confirmados até agora no Estado
Localizado a cerca de 81 km de Vitória, capital do Espírito Santo, o município de Alfredo Chaves, na região Sul capixaba, é a cidade com o maior número de casos registrados de Febre do Oropouche. Em segundo lugar, aparece Iconha com 450 casos e em terceiro, Laranja da Terra com 339 casos registrados.
Os dados foram divulgados na manhã desta quinta-feira (19), por meio do Boletim Epidemiológico da secretaria de Estado da Saúde (Sesa-ES). De acordo com o boletim, da semana epidemiológica (SE) 01: 31/12/2023 a 06/01/2024 - até a (SE) 50: 08/12/2024 a 14/12/2024 - o acumulado é de 3.823 casos.
A capital Vitória contabiliza até o último dia 14 deste mês, 58 casos de Oropouche. Ainda de acordo com a publicação, uma morte foi confirmada no município de Fundão, e outra segue em investigação. A doença é uma arbovirose que tem como vetor o maruim, popularmente conhecido como mosquito-pólvora.
Para entender possíveis relações do grande número de casos e o local onde foram registrados, no caso Alfredo Chaves, a reportagem conversou com o biólogo e mestre pela Ufes, Daniel Gosser Motta.
Antes, é preciso contextualizar que, ao contrário do que se possa pensar, a economia do Estado não vive somente do café, mas também da fruticultura e entre os destaques está o cultivo da banana.
Ao todo, a colheita rendeu 44.800 toneladas (11,2%), seguido de Itaguaçu, com 36.070 toneladas (9%) e Linhares com 35.296 toneladas 98,8%).
"Tem uma relação, uma correlação positiva. Ah, o que significa isso? O que é correlação positiva? É sempre a causa com causador. Então, por exemplo, se é um lugar que tem muita matéria orgânica, tende a ter maior quantidade de maruim, logo, tende a ter maior número de casos da febre do Oropouche", destaca Daniel.
Então quer dizer que se um maruim picar alguém, a pessoa vai ter a febre do Oropouche? Vale relembrar que o mosquito precisa estar infectado pelo vírus para que essa transmissão aconteça. Assim como acontece com o Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya.
A fêmea do maruim, de maneira geral, precisa de ambientes quentes e úmidos para depositar seus ovos e se reproduzir.
Isso significa que a combinação, umidade, matéria orgânica e sombra, torna o local um berçário para as larvas crescerem e se tornarem mosquitos adultos.
Plantações de banana e frutas de modo geral, folhas em decomposição e até lixo, são alguns exemplos de lugares onde o mosquito é facilmente encontrado.
"A banana, a casca de banana, acaba sendo a questão da matéria orgânica. Matéria orgânica é tudo que tem vida, ou já teve. Então, ele (maruim) gosta de lugares que tenham essa deposição de matéria orgânica. Cachoeira, manguezal, bananal, porque tanto nos furos de caules quanto naquelas folhas de bananeiras que depositam muita matéria orgânica, a casca da banana também, em decomposição, acumulam água e fica um ambiente perfeito pra eles", explica o biólogo.
Na manhã desta quinta-feira (19), o governador Renato Casagrande falou sobre o alto contágio na região das montanhas capixabas e citou, além de Alfredo Chaves, as cidades de Iconha, Vargem Alta e a região alta de Castelo como localidades onde há presença mais forte do mosquito.
Essa semana, o Estado recebeu um evento nacional sobre a emergência em torno dos casos de oropouche que contou com a presença da Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel.
"Precisamos trabalhar na forma de trazer a melhor conduta e o menor risco à população. Temos uma arbovirose que tem o comportamento diferente, que tem um combate diferente da dengue e mesmo assim traz um desafio. O número de estados presentes aqui mostra a importância do tema e como isso está influenciando a vida dos brasileiros", disse Miguel Duarte, secretário de Estado da Saúde, durante o evento.
A orientação da Secretaria de Estado da Saúde é para que a população evite áreas com grande concentração do mosquito ou casos da doença. Usar repelentes e roupas que protejam a pele também é fundamental durante essa época. O biólogo Daniel Gosser Motta disse também que a picada do mosquito tem uma característica.
"Para a gente detectar que foi mordido por um maruim, é aquele altinho que forma na pele e o pontinho vermelho nem pequeno no meio dele. Bem pequenininho, né? É isso, porque o aparelho sugador dele é diferente dos mosquitos, por exemplo, da dengue. É mais curtinho, então ele precisa, meio que, tirar um pedacinho de pele, pra chegar até os vasinhos".
A Sesa chama a atenção para o tamanho do mosquito que é bem pequenino e está entre as principais caraterísticas do inseto que mede cerca de 1,5 milímetros, podendo atingir 3 milímetros, sendo visto, muitas vezes, apenas como um pontinho na pele.
"Se a quantidade de maruim for muito alta na localidade, o inseto pode atacar ao longo de todo o dia e a sua presença está associada também ao incômodo à população, devido à picada dolorosa e persistência em se alimentar", destacou a referência técnica em Zoonoses e Doenças Vetoriais da Secretaria da Saúde, a bióloga Karina Bertazo.
A reportagem procurou a Secretaria Municipal de Saúde e também a Secretaria de Comunicação de Alfredo Chaves para saber quais medidas estão sendo tomadas para conter o avanço da doença na região. Este texto será atualizado assim que houver manifestação.