Na Índia, a onda de calor intenso levou os termômetros a registrarem 50°C. Com pássaros caindo do céu e relatos de moradores não conseguindo respirar por causa da fumaça de incêndios naturais, fenômeno apontado como o mais quente nos últimos 100 anos. Ocorrendo desde março, as altas temperaturas têm prejudicado produções de trigo do país.Para diminuir os impactos dos preços locais do produto, o governo indiano anunciou nesta sábado (14) o bloqueio das exportações trigo. Segundo o comunicado, serão permitidas apenas as exportações lastreadas em cartas de crédito já emitidas e também para países que solicitem suprimentos "para atender às suas necessidades de segurança alimentar".O governo alerta que a medida não é definitiva e pode ser revisada, disseram funcionários do governo em entrevista coletiva.Efeitos positivos para o Brasil A cadeia de desabastecimento global de grãos ainda sofre com a crise geopolítica causada pelo conflito na Ucrânia. Segundo autoridades mundiais de agricultura, com o bloqueio das exportações indianas, a tendência é provocar um desabastecimento global — o que, para o Brasil, pode ser favorável, já que é um grande exportador de trigo. Neste ano, a exportações do agronegócio brasileiro ultrapassaram US$ 10 bilhões em fevereiro e bateram recorde para o mês. As exportações do cereal superaram as importações: US$ 246,3 exportados (836,6 mil toneladas), contra US$ 141,58 milhões importados (498,8 mil toneladas).Em janeiro e fevereiro de 2022, as exportações recordes de trigo, em valor e em volumes (1,48 milhão de toneladas; + 184,2%), apresentaram como principais destinos: Arábia Saudita (US$ 85,63 milhões; 19,6% de participação); Marrocos (US$ 68,16 milhões; 15,6%); e Indonésia (US$ 65,70 milhões; 15%).O Paraná responde por quase metade da produção de trigo brasileira e 30% do volume de moagem."As nossas cultivares no Brasil melhoraram muito em termos de qualidade nos últimos anos então a gente espera um ganho de produtividade e um aumento da área plantada. Então estamos otimistas que a safra seja excelente", analisa Paloma Venturelli, vice-presidente do Sinditrigo-PR.Desabastecimento globalConsiderado o segundo maior produtor de trigo do mundo, atrás apenas da China, a decisão da Índia pode elevar preços mundiais para novos patamares e atingir países mais pobres, como Ásia e África.Os índices do trigo na Índia subiram para patamares recordes, em alguns mercados spot atingindo 25.000 rúpias (320 dólares) por tonelada, bem acima do preço mínimo do governo de 20.150 rúpias.Mesmo sendo uma medida provisória, ministros de agricultura do G7 criticaram a decisão e disseram que a medida "agravará a crise" de abastecimento mundial de grãos provocada pela guerra na Ucrânia."Se todos começarem a restringir suas exportações ou a fechar seus mercados, a crise se agravará e isso também prejudicará a Índia e seus agricultores", disse o ministro alemão, Cem Özdemir, após uma reunião com os representantes do grupo em Stuttgart."Instamos a Índia a assumir suas responsabilidades como membro do G20", acrescentou.Os compradores globais estavam apostando no fornecimento do segundo maior produtor de trigo do mundo depois que as exportações da região do Mar Negro caíram após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro. Antes da proibição, a Índia pretendia embarcar um recorde de 10 milhões de toneladas este ano.As autoridades acrescentaram que não houve queda dramática na produção de trigo este ano, mas que as exportações não regulamentadas levaram a um aumento nos preços locais.O aumento dos preços de alimentos e energia empurrou a inflação anual no varejo da Índia para perto do maior nível em oito anos em abril, fortalecendo as expectativas de que o banco central aumentará as taxas de juros de forma mais agressiva.Em fevereiro, o governo previu produção de 111,32 milhões de toneladas, sexta safra recorde consecutiva, mas reduziu a previsão para 105 milhões de toneladas em maio.Um aumento nas temperaturas em meados de março significa que a safra pode ficar em torno de 100 milhões de toneladas ou até menos, disse um trader de Nova Délhi.
G1