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Autista

Professor do Ifes lança livro sob ponto de vista de filho autista

O livro se chama "Oi, eu sou Carlos!", e pode ser baixado gratuitamente no Google Play Books


Foto: Reprodução/Adonai José Lacruz, o autor, também é autista

Que tal aproveitar o feriado para ler um livro? "Oi, eu sou Carlos!", de Adonai José Lacruz, já pode ser baixado gratuitamente através do Google Play Books. Ele é professor do Ifes, no campus de Viana, e o livro foi lançado pela editora do próprio instituto, a Editora Ifes.

E sabe o que torna tudo isso mais interessante ainda? O livro foi escrito do ponto de vista de um dos filhos do Adonai, o Carlos, de 7 anos. Os dois são autistas. Mas este não é um livro infantil, como o autor explica na entrevista abaixo. Vale muito a leitura!

1 – De onde surgiu a ideia do livro?

Em 2018 escrevi o livro infantil "Quem soltou este pum?" com meu filhote João, que tinha 8 anos na época. Ali resolvi que escreveria um livro com Carlos quando ele também tivesse por volta dessa idade.

Inicialmente, pretendia escrever um livro infantil com o Carlos. Como não foi possível fazer com ele, fiz para ele. Mas não um livro infantil, como planejado. O livro acabou vindo na forma de uma crônica descritivo-confessional, narrada em primeira pessoa pelo Carlos.

A crônica no livro mostra uma parte da vida dele. Escrevê-la me mostrou que fazer o livro era necessário, sobretudo, para mim.

2 – Por que escrever do ponto de vista de uma criança autista?

Desde o início eu queria fazer o texto sobre a perspectiva do Carlos, uma criança autista de 7 anos de idade. Queria dar voz a ele. Não faz muito tempo que a voz das pessoas com deficiência era a emitida pela classe médica. Depois, ganhou força a voz da família das pessoas com deficiência. Faz pouco tempo que a própria voz dessas pessoas, autônomas, passou a ser ouvida. Eu queria reforçar isso, guiando-me pela máxima nothing about us withou us ("Nada sobre nós, sem nós", em tradução livre), invocada pelo movimento sul-africano pelos direitos das pessoas com deficiência na década de 1990.

Verdadeiramente me esforcei para conduzir a narrativa a partir da visão do Carlos, mas sem me afastar de mim mesmo.

3 – Como podemos usar a literatura e outras artes como forma de inclusão de pessoas com deficiência?

É preciso ocupar os espaços. A literatura, pintura, música etc. tem o potencial que cunhar nas pessoas o entendimento de que deficientes são os espaços e não as pessoas. Se os espaços não são ocupados, parece que não cabemos neles.

A arte tem o poder de permitir que as pessoas se vejam, se reconheçam e, sobretudo, que vejam outras pessoas, diferentes… que notem a pluralidade como algo natural.

Como professor, acredito fortemente que a informação conduz ao conhecimento que, por sua vez, leva à empatia. E que isso nos remete a uma sociedade mais sóbria, madura e coletiva. Não é mesmo?!


Folha Vitória

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