O prefeito de Pedro Canário, Bruno Teófilo Araújo, Orlando Alves Abreu, servidor público municipal, Roffman Rodrigues, pré-candidato a vereador do município, e Kleilson Martins Rezende, atual vice-prefeito da cidade e pré-candidato a prefeito são citados num processo que apura a prática de crime de corrupção eleitoral, crime de ameaça e crime de violência política contra a mulher. O processo está no Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES), que requereu à Polícia Federal a abertura de inquérito policial.
A denunciante é Elisamar Bredoff Fernandes, 41 anos, que é agente comunitária de endemias na prefeitura de Pedro Canário, mas está afastada por motivos de saúde. Ela relata que, após o afastamento, seu contrato foi rescindido, e que a rescisão teria acontecido não por outros motivos senão pelo fato de ela ter se filiado ao Partido Liberal (PL) a fim de se candidatar a vereadora no município.
No processo, Elisamar declara que Bruno Teófilo Araújo e Orlando Alves Abreu estariam persuadindo eleitores e possíveis pré-candidatos com o objetivo de apoiar e angariar votos em prol das candidaturas de Roffman Rodrigues e Kleilson Martins Rezende, pré-candidatos aos cargos de vereador e prefeito, respectivamente. Ela sustenta, ainda, que Orlando, por mensagem de áudio no WhatsApp, ofereceu-lhe a quantia mensal de R$ 7 mil e retorno ao cargo público em troca de apoio político e voto aos pré-candidatos citados.
"Eles queriam que eu saísse do PL e ajudasse o Roffman Rodrigues na candidatura dele. O Orlando citou que o pré-candidato a prefeito estava na Lagoa (Lagoa Augusto Ruschi) conversando com alguém pra entrar para o lado deles. E também foi citado dentro do carro pra eu fazer a campanha não só para o Roffman como também para o vice-prefeito e para o pré-candidato a vice, o Denis Amâncio", relata Elisamar em conversa com o ES Hoje.
Além disso, ela argumenta que participou de uma reunião com Bruno Teófilo Araújo, Orlando Abreu e Roffman Rodrigues, no gabinete do prefeito, na manhã do dia 11 de maio de 2024, momento em que novamente lhe foram ofertadas vantagens (quantia mensal e retorno ao cargo público) em troca de voto e apoio político. Nesta ocasião, Elisamar gravou o áudio ambiente e, encerrada a reunião e já dentro do carro – porque Orlando deixaria Elisamar no local onde ela teria outra reunião – os participantes suspeitaram que a conversa teria sido registrada, momento em que ela passou a sofrer ameaças, inclusive de morte, de Orlando na presença do prefeito Bruno Araújo e do pré-candidato a vereador Roffman Rodrigues.
"A gravação estava combinada com outra pessoa que não participou da reunião. Então eu não sei como eles descobriram, porque a pessoa me disse que não contou pra ninguém", diz Elisamar. Ela continua sua fala destacando que não tem medo de morrer, mas que a família teme por ela.
"Não tenho mágoa nenhuma deles porque eu acho que quando a pessoa guarda mágoa ela está criando doença para si própria. Mas eu quero justiça. Eu acredito que existe justiça pra isso, pra apurar todos os fatos. Até mesmo pra não se repetir com outras pessoas. Acho que a pessoa tem que ser profissional no que faz. O que o prefeito fez atrapalha muito ele na política futuramente. Eu só quero paz pra que todos nós possamos concorrer na política sem nenhuma divergência, sem nenhum tipo de perseguição", comentou Elisamar.
Na segunda-feira (17), em sessão da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales), o deputado estadual Wellington Callegari (PL) exibiu no telão da Casa as páginas do processo que corre no TRE-ES e rodou a parte final do áudio gravado, que segue transcrito abaixo:
Orlando Alves Abreu: Pode apagar. Você vai me prejudicar, cara.
Elisamar Bredoff Fernandes: Não, não. Não tem essa questão não.
Orlando Alves Abreu: Pode tirar essa gravação daí que você vai me prejudicar, cara.
Elisamar Bredoff Fernandes: Não tem essa questão de gravação aqui não.
Orlando Alves Abreu: Vou perder minha função, vou perder meu cargo efetivo, vou perder tudo. Cê entendeu. Cê tá me, cê vai me fod** a vida, cara.
Elisamar Bredoff Fernandes: Eu também passei por isso. Dia das Mães essa semana, você acha que eu tive dinheiro pra ir ver meu filho?
Orlando Alves Abreu: Eu não tenho culpa disso aí não, cara.
Elisamar Bredoff Fernandes: Então, rapaz?
Orlando Alves Abreu: Eu não tenho culpa disso aí não, cê vai me prejudicar.
Elisamar Bredoff Fernandes: Eu não tô te prejudicando não, pode ter certeza disso.
Orlando Alves Abreu: Mas vai me prejudicar. Eu vou perder meu cargo e tudo mais. Cê vai me prejudicar. E eu te digo mais: se cê me fo** a vida eu fo** com sua vida. Eu vou te falar, eu fo** com a sua vida. Não tem chão nessa terra aqui que eu não te pego não. Não tem chão nessa terra aqui que eu não te pego não. Eu te mato, desgraça. Eu te mato. Se cê me prejudicar eu te mato. Eu não tô jogando conversa fora não. Eu faço isso é na frente de qualquer um aí agora, e, se bobear, vai ser aqui agora mesmo, me dá essa desgraça aqui, me dá essa po** aqui, cê vai fo** com minha vida.
Callegari (PL) condenou com veemência a atitude do prefeito de Pedro Canário e do servidor público Orlando Alves Abreu. "Os pré-candidatos do PL de Pedro Canário não estão sozinhos. Aqui tem lei, e nós vamos fazer com que essa lei seja cumprida", disse o parlamentar.
O prefeito Bruno Teófilo Araújo, em petições apresentadas à Justiça Eleitoral, faz três contestações: primeiro, ele sustenta que é competência do juiz eleitoral de 1º grau e não do TRE-ES o processamento de eventual inquérito ou ação penal, uma vez que a imputação de crime eleitoral e crime contra a vida, na avaliação dele, não ocorreram no exercício de suas funções como prefeito municipal; segundo, que a prova digital que acompanha a notícia crime é ilícita, tendo em vista tratar-se de gravação ambiental realizada por Elisamar sem o consentimento dos demais interlocutores; e, terceiro, que a denúncia é caluniosa, pois não há que se falar em corrupção eleitoral e sim em oferta de trabalho como cabo eleitoral na campanha de Roffman. Entretanto, a Procuradoria Regional Eleitoral manifestou-se pela competência do TRE-ES para supervisionar as investigações.
Respostas
O ES Hoje procurou a Polícia Civil para saber se a Delegacia de Polícia de Pedro Canário fez alguma diligência e se chegou a algum fato acerca do caso. Por meio de nota, a Polícia Civil respondeu que "não foi comunicada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) de forma oficial. A Delegacia de Polícia (DP) de Pedro Canário não possui nenhum procedimento em aberto relativo ao caso. Foram colhidas somente informações preliminares pela autoridade policial que serão repassadas, caso sejam oficialmente solicitadas pelo TRE-ES ou pela Polícia Federal".
A Polícia Federal foi procurada para saber se já havia recebido o caso e se já foi feita alguma diligência, e também se a PF recebeu algum material encaminhado pela Polícia Civil de Pedro Canário, conforme requereu o TRE. Até o fechamento desta edição a assessoria do órgão não retornou.
O ES Hoje também procurou o prefeito de Pedro Canário, Bruno Teófilo Araújo; o vice-prefeito da cidade e pré-candidato a prefeito, Kleilson Martins Rezende; o pré-candidato a vice-prefeito Denis Amâncio; o pré-candidato a vereador Roffman Rodrigues; e o servidor público municipal Orlando Alves Abreu.
Por Whatsapp, Bruno Teófilo disse que iria verificar com o setor jurídico, mas não deu retorno. A ligação para o telefone do vice-prefeito Kleilson Martins Rezende caiu na caixa postal. Foi enviada mensagem por Whatsapp, mas ele não retornou. O telefone de Denis Amâncio também caiu na caixa postal e foi deixado recado, mas ele não retornou. Roffman Rodrigues atendeu à ligação, mas não quis se pronunciar; disse que enviaria o contato do advogado dele, mas não enviou. Orlando Alves Abreu foi procurado por telefone, mas a ligação caiu na caixa postal. Ele não respondeu à mensagem enviada pelo Whatsapp.