O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) arquivou o inquérito policial que investigava um possível atentado contra o prefeito de Afonso Cláudio, Luciano Pimenta (PP), na região Serrana do Espírito Santo, após uma série de contradições no depoimento do prefeito, que apontam a inexistência do crime. As informações estão disponíveis no inquérito a que o Folha Vitória teve acesso.
O caso ocorreu em 22 de outubro de 2024. Na ocasião, Pimenta relatou ter sido vítima de uma tentativa de homicídio.
O carro do prefeito apresentava perfurações de munição de arma de fogo, mas conforme apontam as investigações, os disparos teriam sido efetuados de dentro do próprio veículo.
Relembre o caso
O caso ocorreu em 22 de outubro de 2024. Na ocasião, Pimenta alegou que seguia para a casa quando avistou dois homens em uma motocicleta parada próxima ao imóvel. Nesse momento, o homem que estava na garupa teria começado a atirar.
Pimenta afirmou que carregava no carro uma pistola 9 milímetros e revidou a agressão com cerca de 10 disparos. Com isso, os suspeitos teriam fugido pela estrada que conduz à Mata da Gameleira, mas que o garupa teria continuado a disparar.
Estes disparos teriam, inclusive, atingido o vidro traseiro do carro do prefeito, o que teria causado as perfurações de tiros. Pimenta afirmou que voltou para casa e acionou a Polícia Militar por volta de 21h57 e que o ataque teria ocorrido às 21h.
Disparos partiram de dentro do carro
No início da investigação, a Polícia Civil realizou perícias no veículo do prefeito, além de nas cápsulas que foram deflagradas no carro. Além disso, os policiais também tentaram obter imagens de câmeras de videomonitoramento que pudessem ter capturado a motocicleta utilizada no suposto crime.
A primeira contradição, de acordo com a investigação, é que durante o depoimento, Pimenta teria alegado que as perfurações no vidro traseiro de seu veículo teriam sido causadas por disparos dos suspeitos.
Acontece que o laudo pericial realizado nos vidros traseiro e dianteiro, mostrou que os disparos foram feitos de dentro para fora, ou seja, pela própria vítima.
Além disso, as cápsulas de munição .40 encontradas no veículo, estavam muito próximas umas das outras, o que contraria a versão do prefeito de que o garupa teria continuado a atirar enquanto fugia.
Outra contradição apontada pela perícia é que as cápsulas de .40 teriam sido de quatro armas diferentes, o que contradiz outra alegação de Pimenta, de que apenas um suspeito teria disparado.
As cápsulas .40 apreendidas pertenciam a 04 (quatro) armas de fogo distintas, o que é incoerente com o relato do ofendido, que afirmou que os disparos foram realizados apenas pelo indivíduo que estava na garupa da motocicleta, informa a decisão.
Teia de aranha e outras contradições
Outro ponto que contradiz o depoimento de Pimenta é o fato de que em uma das cápsulas de .40 encontradas no interior do veículo, terem sido achadas teias de aranha, o que demonstra que aquela cápsula não foi utilizada no momento do suposto crime.
Além disso, os investigadores também conseguiram imagens de um posto de gasolina, onde o prefeito alegou ter sido perseguido pela dupla enquanto fugia, no interior da cidade de Afonso Cláudio.
No vídeo, segundo os policiais, é possível ver o carro de Pimenta, mas não a moto onde estariam os suspeitos ou qualquer outro nos minutos que seguiram a passagem do automóvel do prefeito.
Mais um ponto, segundo a investigação, que contraria o depoimento do prefeito é alegação dada por ele de que o crime teria ocorrido por volta de 21h e que a Polícia Militar teria ido à sua casa 10 minutos após os fatos, mas a ligação para a PM ocorreu apenas às 21h57, quase uma hora após o suposto atentado.
Por conta das contradições, além dos laudos periciais, o MPES concluiu que não há materialidade para o crime de tentativa de homicídio, assim como não há testemunhas do caso ou provas.
"No caso dos autos, vejo que não preenchem os requisitos mínimos para dar prosseguimento ao feito, eis que os elementos colhidos durante as investigações apontam para a inexistência do crime narrado", conclui a decisão.
A reportagem do Folha Vitória procurou o prefeito de Afonso Cláudio, além da liderança do partido, para comentar sobre a decisão. Até o fechamento desta matéria não houve retorno.
Folha Vitória