Yara Rohsner foi diagnosticada com neuroblastoma e passou por 232 sessões de quimioterapia, além de transplante
Até o início de abril de 2020, a vida de Yara Rohsner, de 4 anos, era correr pelas areias da praia da Barra do Jucu e brincar com as várias primas dela. A partir dali, a pequena começou a apresentar sinais de que a saúde não ia tão bem e após a insistência da mãe, Jéssica Rohsner, 30, que levou a filha a vários médicos para realizar exames até ter uma resposta para a falta de disposição da filha, a menina foi diagnosticada com neuroblastoma - um tipo de câncer.
O diagnóstico veio em setembro de 2020 e Yara tinha uma massa no abdômen de 10 centímetros, além de metástase nos ossos e medula. A partir dali, a pequena iniciou uma grande luta para se curar da doença. Após 232 sessões de quimioterapia, 16 de radioterapia e um transplante de medula, a cura chegou neste ano. A vitória foi comemorada com a canção favorita dela "Let It Go" ("Livre Estou", em português), do filme "Frozen".
Jéssica gravou o momento que a filha canta e dança com os voluntários da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace), no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB), onde Yara fez o tratamento, para comemorar a cura do câncer. As imagens foram compartilhadas por ela nas redes sociais e viralizaram (assista abaixo).
As imagens foram feitas no dia 30 de abril, quando Yara deixou o hospital depois de 11 dias internada para o primeiro ciclo da imunoterapia - um tratamento para eliminar as chances da doença reaparecer.
"Esses voluntários vão visitando os leitos e os quartos dos pacientes. A gente encontrou eles no corredor e falaram para ela 'vamos tocar uma música para comemorar a sua alta'. Eles tocaram a música favorita dela", conta Jéssica.
A mãe da pequena explica que a imunoterapia é feita com uma medicação comprada na Suíça, que custa cerca de R$ 1,8 milhão e que elas conseguiram através do Sistema Único de Saúde (SUS). Essa também é uma etapa que traz alguns efeitos colaterais ao paciente, por isso a comemoração.
"Foi um momento de muita felicidade pela gente ter conseguido o medicamento e por fazer o primeiro ciclo dessa medicação, que tem muitos efeitos colaterais. Ficamos 11 dias internadas, a Yara sentiu muita dor e precisou ficar no oxigênio", revelou Jéssica.
Jéssica e Yara foram para Brasília realizar as quimioterapias, radioterapias, transplante e imunoterapia em dezembro de 2021, por isso passaram datas comemorativas que, geralmente, as pessoas celebram em família, como Natal e Ano Novo, longe dos familiares e amigos lutando pela cura de Yara.
O segundo ciclo da imunoterapia está marcado para começar no dia 24 deste mês, dia em que a pequena completa 5 anos. Depois de passar datar importantes longe da família, Yara e Jéssica voltaram a Vitória no final de semana passado para celebrar o aniversário da menina com um piquenique na Pedra da Cebola. A fantasia usada por ela na comemoração? Elza, personagem do filme "Frozen".
"Mesmo após tantos protocolos e cirurgias, a Yara está ótima. Ela canta, dança e isso me faz acreditar, cada dia mais, que ela vai ficar livre do câncer para sempre", comemora Jéssica, que já pensa no que fazer quando a filha terminar os cinco ciclos de imunoterapia - previsão de que isso ocorra até o final de agosto deste ano.
"Vamos para Vitória fazer uma passeata. Todo mundo vai andar de bicicleta pela praia, quero faixas para comemorar o fim do tratamento. Quando a gente chegou ao hospital, a Yara não conseguia sentar,. O câncer tinha se espalhado pelo corpinho da Yara e ela estava muito debilitada. Hoje, ver ela 1 ano e 8 meses depois curada", celebra.
Jéssica relata que a filha começou a apresentar constipação na Páscoa de 2020, quando ficou três dias sem conseguir ir ao banheiro. A família estranhou e tentou mexer na alimentação para ver se isso melhorava, mas a dificuldade continuou.
Outro sinal que acendeu o alerta em Jéssica foi quando a menina que, sempre corria pelas areias da praia da Barra do Jucu, passou a não querer correr mais e pedir colo.
Além dos sintomas, a pandemia foi outro fator que dificultou o diagnóstico, uma vez que o atendimento nos hospitais tinha o foco nos sinais da covid-19.
"Começamos a fazer exames particulares, todos os meses ela fazia exame de sangue e estava normal. Eu decidi fazer uma ultrassom em junho e não descobriu nada. Fez exame de sangue, em agosto, que deu um pouco de anemia. Mas não era grave, demos sulfato ferroso e não resolvia. Conseguimos uma consulta no Hospital Infantil de Vila Velha (Himaba) e lá fizemos uma ultrassom, em setembro, que apontou o câncer. Ela tinha uma massa de 10 cm e, em dois meses, e o câncer espalhado, já havia espalhado nos ossos", disse Jéssica.
Para cuidar da filha, Jéssica, que é mãe solo, precisou deixar o emprego de doula e de fotógrafa para acompanhar a filha nas consultas e sessões de quimioterapia e radioterapia, além de viajar para Brasília onde o tratamento é feito. Hoje, ela sobrevive com as doações que as pessoas fazem pelas redes sociais.
"Voltar a vida normal, na escola e no trabalho sem se preocupar de internar para fazer medicação. Esse é o nosso maior sonho, até na festa da Yara, no domingo (08), ao assoprar a vela ela disse: 'quero voltar'. É isso que a gente quer, é está de volta a nossa família, ela tem muitas primas e ela fica morrendo de saudades delas", confessa Jéssica.
Segundo o Instituo Nacional do Câncer (Inca), o neuroblastoma é a terceira neoplasia (massa) maligna mais comum na infância e adolescência, após a leucemia e tumores do sistema nervoso central. Essa doença corresponde de 8% a 10 % dos casos de neoplasias na criança, com prevalência de um caso a cada sete mil nascidos vivos.