Familiares de detentos e ex-internos relatam condições precárias e espaços nos quais cabem 4 pessoas sendo ocupados por 12.
O Espírito Santo tem nove mil detentos em excesso nas unidades prisionais capixabas, de acordo com a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus).
Ao todo, são 23 mil presos para 13.800 vagas disponíveis. Números que escancaram um problema latente no estado: a superlotação da população carcerária.
De acordo com a Sejus, há unidades no ES que chegam a ter o dobro de detentos em relação às vagas disponíveis.
Ainda com base no levantamento da secretaria, a Penitenciária Semiaberta de Vila Velha, por exemplo, deveria ter 604 internos, mas abriga mais de 1.700 detidos. Na Penitenciaria de Segurança Máxima o cenário é o mesmo, com mais de 1.100 pessoas em um espaço com capacidade para 529.
"A comida é precária, muitas vezes vem azeda. A gente mostra aos inspetores. Teve uma vez que minha comida estava com larvas. Já fui agredida. Superlotação, sem estrutura na unidade, não tem ventilação, é muito quente. Os ratos sobem pelo vaso. Eu já fiquei numa cela com 12 pessoas, e a cela era para quatro. Tive que dividir minha cama e o resto se virou no chão, no banheiro... isso ocorre até hoje", contou Rayickan.
Durante as visitas, ela observa o problema de perto e lamenta que o ambiente não propicie, de acordo com ela, segundas chances às pessoas que estão presas.
"Se todo mundo tiver um pouquinho de oportunidade, se tiver um ambiente digno de estar vivendo, independente se fez algo errado, merece sim uma segunda chance. Estamos construindo nossa família. A gente que visita e vê o presídio lá fora é deplorável, quem dirá lá dentro. Convivem com animais. Rato, barata, sapo e até cobra, isso num ambiente úmido e frio", disse a jovem.
O sistema prisional no Espírito Santo também chamou atenção há 16 anos, em 2006, quando houve um colapso devido à superlotação e carência de investimentos no setor.
Na época, o poder público adotou celas metálicas e uma espécie de contêiner para encarcerar pessoas, que viviam em locais com temperaturas que chegavam até 50ºC, sem ventilação, luminosidade ou condições básicas de higiene.
Os locais que deveriam receber, no máximo 10 detentos, chegavam a ter de 20 a 30 pessoas.
"Nós estamos trabalhando para estabilizar o crescimento da população prisional. A população prisional praticamente parou de crescer, e até o final do ano entregaremos mais 800 vagas. São 960 vagas entregues no nosso governo", explicou.