Investigação afirma que os denunciados integravam e mantinham organização paramilitar e estavam envolvidos num homicĂdio ocorrido na Praça de ItararĂ©, em Vitória, em fevereiro
O Ministério PĂșblico do EspĂrito Santo (MPES) denunciou seis pessoas por serem suspeitas de integrarem e manterem uma milĂcia, grupo paramilitar criado com a finalidade de praticarem crimes na Grande Vitória.
Cinco delas foram presas na operação La Liga, realizada no mĂȘs de maio. As investigações apontam que uma sétima pessoa, ainda não identificada, faz parte da organização. O que também chama a atenção é que o grupo seria formado por quatro policiais militares.
A denĂșncia do MPES, a qual a reportagem do Folha Vitória obteve acesso, foi entregue à Justiça estadual na quinta-feira (07) e aponta que os citados "integravam e mantinham organização paramilitar, milĂcia particular, grupo armado com finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal".
No documento, é descrito que o grupo realizava "incursões ilĂcitas" pelas ruas da Grande Vitória "com o propósito de cometer crimes e ilegalidades". Em um trecho, o Ministério PĂșblico descreve os meios utilizados pelo grupo para acobertar os crimes:
Em atividade tĂpica de organização paramilitar, mediante a associação clandestina de policiais e de civis, com utilização de armas, placas frias e outros petrechos para dificultar identificação do grupo, tais quais radiocomunicadores para evitar comunicações interceptĂĄveis e registros de dados de localização, uso de bolsa térmica próprias de entregadores-disfarce, entre outros meios de eliminação de provas de crimes.
- Cabo Ronniery Vieira Peruggia: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂcia particular; por homicĂdio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vĂtima) e ainda por adulteração de sinal identificador de veĂculo automotor (uso de placa fria). EstĂĄ preso no Quartel da PolĂcia Militar, em MaruĂpe.
- Cabo José Moreno Valle da Silva, vulgo Moreno: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂcia particular; por homicĂdio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vĂtima). EstĂĄ preso no Quartel da PolĂcia Militar, em MaruĂpe.
- Soldado Josemar Fonseca Lima, vulgo Baiano: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂcia particular. Não foi informado se ele estĂĄ detido no Quartel. A assessoria da PolĂcia Militar também não respondeu.
- Walace Luiz dos Santos Souza: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂcia particular; por homicĂdio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vĂtima) e ainda por porte ilegal de arma de fogo. EstĂĄ preso na PenitenciĂĄria de Segurança Média 1 (PSME1), em Viana.
Entre os crimes apontados pelo Ministério PĂșblico, tendo os integrantes da milĂcia como responsĂĄveis, estĂĄ o assassinato do jovem Felypy Antônio Alves Chaves, o Cambalaxo, de 18 anos, na praça de Itararé, em Vitória, na madrugada do dia 21 de fevereiro deste ano. Ele foi morto a tiros ao lado da arquibancada do campo de futebol.
Quando a PolĂcia Militar chegou, a vĂtima jĂĄ estava morta. Ele foi atingido por 15 disparos: na cabeça, no braço, no pescoço, no abdômen e nas costas. Segundo testemunhas, ele tentou correr dos suspeitos, que jĂĄ chegaram atirando nele.
De acordo com as investigações, um carro com quatro pessoas e uma moto com dois ocupantes estacionaram em uma rua próxima a Unidade de SaĂșde de Itararé. O MPES afirma que Walace pilotava a moto e na garupa estava Glaydson. A moto foi utilizada para bloquear o trĂĄfego na via. Inclusive, ela foi colocada junto a um cavalete, garantindo a interdição da rua.
Imagens de videomonitoramento obtidas pelo MPES mostram que Walace empunhava uma arma de fogo no tempo em que permaneceu bloqueando a rua.
O Ministério PĂșblico afirma que a vĂtima não teve possibilidade de defesa e que foram utilizados recursos como aproximação tĂĄtica tĂpica das forças policiais como contenção e planejamento.
Outro detalhe apontado pela investigação foi a de que, na ida para o local do crime, na moto guiada por Walace, o garupa (apontado pelo MP como o cabo José Moreno) utilizava um colete balĂstico da PolĂcia Militar, sob uma camisa de cor clara. O colete ficou visĂvel nas imagens por meio do infravermelho da câmera de videomonitoramento do cerco eletrônico da Prefeitura de Vitória.
A reportagem tenta contato com as defesas dos citados na denĂșncia. O espaço estĂĄ aberto à manifestação dos respectivos advogados.
A reportagem procurou a PolĂcia Militar do EspĂrito Santo sobre posicionamento a respeito da denĂșncia do MPES sobre a participação de PMs em grupo miliciano. Também perguntou se havia alguma processo administrativo em andamento e quais as penalidades para os envolvidos, levando em conta a possibilidade de expulsão dos citados dos quadros da PM.
Em nota enviada à redação, a PolĂcia Militar respondeu que, por meio da Corregedoria, estĂĄ aguardando acesso oficial às conclusões das investigações conduzidas pelo Ministério PĂșblico, a fim de identificar o procedimento administrativo mais adequado ao caso concreto.