PolĂ­cia formação e atuação em milĂ­cia

MPES denuncia seis pessoas, entre elas quatro PMs, por suspeita de formação e atuação em milícia

Investigação afirma que os denunciados integravam e mantinham organização paramilitar e estavam envolvidos num homicĂ­dio ocorrido na Praça de ItararĂ©, em Vitória, em fevereiro

Por Regional ES

09/07/2022 às 07:30:30 - Atualizado hĂĄ
Foto: Divulgação

O Ministério PĂșblico do EspĂ­rito Santo (MPES) denunciou seis pessoas por serem suspeitas de integrarem e manterem uma milĂ­cia, grupo paramilitar criado com a finalidade de praticarem crimes na Grande Vitória.


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Cinco delas foram presas na operação La Liga, realizada no mĂȘs de maio. As investigações apontam que uma sétima pessoa, ainda não identificada, faz parte da organização. O que também chama a atenção é que o grupo seria formado por quatro policiais militares.

A denĂșncia do MPES, a qual a reportagem do Folha Vitória obteve acesso, foi entregue à Justiça estadual na quinta-feira (07) e aponta que os citados "integravam e mantinham organização paramilitar, milĂ­cia particular, grupo armado com finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal".

No documento, é descrito que o grupo realizava "incursões ilĂ­citas" pelas ruas da Grande Vitória "com o propósito de cometer crimes e ilegalidades". Em um trecho, o Ministério PĂșblico descreve os meios utilizados pelo grupo para acobertar os crimes:

Em atividade tĂ­pica de organização paramilitar, mediante a associação clandestina de policiais e de civis, com utilização de armas, placas frias e outros petrechos para dificultar identificação do grupo, tais quais radiocomunicadores para evitar comunicações interceptĂĄveis e registros de dados de localização, uso de bolsa térmica próprias de entregadores-disfarce, entre outros meios de eliminação de provas de crimes.

MPES cita trĂȘs cabos e um soldado da PM como integrantes de milĂ­cia

- Cabo Ronniery Vieira Peruggia: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂ­cia particular; por homicĂ­dio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vĂ­tima) e ainda por adulteração de sinal identificador de veĂ­culo automotor (uso de placa fria). EstĂĄ preso no Quartel da PolĂ­cia Militar, em MaruĂ­pe.

- Cabo José Moreno Valle da Silva, vulgo Moreno: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂ­cia particular; por homicĂ­dio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vĂ­tima). EstĂĄ preso no Quartel da PolĂ­cia Militar, em MaruĂ­pe.

- Soldado Josemar Fonseca Lima, vulgo Baiano: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂ­cia particular. Não foi informado se ele estĂĄ detido no Quartel. A assessoria da PolĂ­cia Militar também não respondeu.

- Walace Luiz dos Santos Souza: denunciado por integrar e manter organização paramilitar, milĂ­cia particular; por homicĂ­dio (em situação que poderia ferir outras pessoas, tendo dificultado a defesa da vĂ­tima) e ainda por porte ilegal de arma de fogo. EstĂĄ preso na PenitenciĂĄria de Segurança Média 1 (PSME1), em Viana.

Ministério PĂșblico aponta integrantes da milĂ­cia em assassinato ocorrido em praça de Itararé

Entre os crimes apontados pelo Ministério PĂșblico, tendo os integrantes da milĂ­cia como responsĂĄveis, estĂĄ o assassinato do jovem Felypy Antônio Alves Chaves, o Cambalaxo, de 18 anos, na praça de Itararé, em Vitória, na madrugada do dia 21 de fevereiro deste ano. Ele foi morto a tiros ao lado da arquibancada do campo de futebol.

Quando a PolĂ­cia Militar chegou, a vĂ­tima jĂĄ estava morta. Ele foi atingido por 15 disparos: na cabeça, no braço, no pescoço, no abdômen e nas costas. Segundo testemunhas, ele tentou correr dos suspeitos, que jĂĄ chegaram atirando nele.

De acordo com as investigações, um carro com quatro pessoas e uma moto com dois ocupantes estacionaram em uma rua próxima a Unidade de SaĂșde de Itararé. O MPES afirma que Walace pilotava a moto e na garupa estava Glaydson. A moto foi utilizada para bloquear o trĂĄfego na via. Inclusive, ela foi colocada junto a um cavalete, garantindo a interdição da rua.

Imagens de videomonitoramento obtidas pelo MPES mostram que Walace empunhava uma arma de fogo no tempo em que permaneceu bloqueando a rua.

Foto: Reprodução/processo criminal do TJES
Câmeras de videomonitoramento mostram que um dos acusados de participar do crime usava um colete balĂ­stico da PolĂ­cia Militar por baixo da camisa


O Ministério PĂșblico afirma que a vĂ­tima não teve possibilidade de defesa e que foram utilizados recursos como aproximação tĂĄtica tĂ­pica das forças policiais como contenção e planejamento.

Outro detalhe apontado pela investigação foi a de que, na ida para o local do crime, na moto guiada por Walace, o garupa (apontado pelo MP como o cabo José Moreno) utilizava um colete balĂ­stico da PolĂ­cia Militar, sob uma camisa de cor clara. O colete ficou visĂ­vel nas imagens por meio do infravermelho da câmera de videomonitoramento do cerco eletrônico da Prefeitura de Vitória.

Foto: Reprodução/processo criminal do TJES
Segundo Ministério PĂșblico, os envolvidos no homicĂ­dio na praça de Itararé, em Vitória, foram ao local em uma moto e um carro, cuja movimentação foi registrada por câmeras de videomonitoramento da Prefeitura de Vitória

Outro lado

A reportagem tenta contato com as defesas dos citados na denĂșncia. O espaço estĂĄ aberto à manifestação dos respectivos advogados.

O que diz a PolĂ­cia Militar

A reportagem procurou a PolĂ­cia Militar do EspĂ­rito Santo sobre posicionamento a respeito da denĂșncia do MPES sobre a participação de PMs em grupo miliciano. Também perguntou se havia alguma processo administrativo em andamento e quais as penalidades para os envolvidos, levando em conta a possibilidade de expulsão dos citados dos quadros da PM.

Em nota enviada à redação, a PolĂ­cia Militar respondeu que, por meio da Corregedoria, estĂĄ aguardando acesso oficial às conclusões das investigações conduzidas pelo Ministério PĂșblico, a fim de identificar o procedimento administrativo mais adequado ao caso concreto.

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