Materiais usados por adolescente
Pronto para matar quantas pessoas fosse possível, às 13h45 do dia 19 de agosto deste ano, o jovem Henrique Lira Trad, 18 anos, solicitou uma corrida por aplicativo com um destino: escola Éber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, Vitória, onde era ex-aluno.
No dia do crime, Henrique se preparou para o massacre acessando por horas um jogo eletrônico. Segundo o próprio perito, "trata-se de um jogo eletrônico de suspense policial onde o jogador controla uma garota que porta armas e atira em sua escola".
Esse e outros novos detalhes constam na denúncia do Ministério Público do Estado que, na última sexta-feira, encaminhou o documento à 1ª Vara Criminal de Vitória.
Em um dos trechos do documento é citado que, ao ser preso, Henrique confessou aos policiais militares que sua intenção era de matar quantas pessoas fosse possível e forçar um confronto com a polícia e ser morto, o que, para o Ministério Público, resta "inegável seu intento homicida e disposição para tanto".
Ainda segundo a denúncia, o crime foi praticado por motivo torpe, após suposto bullying sofrido na escola, enquanto aluno, que desencadeou desejo de vingança, nutrido pela admiração à ataques terroristas, massacres, razão moral e socialmente desprezível para tentar contra a vida das vítimas.
Para o Ministério Público, as tentativas de homicídio foram cometidas "de modo a resultar em perigo comum, diante da possibilidade concreta em atingir um número indeterminado de vítimas".
"O denunciado ainda empregou para a tentativa do crime três garrafas de coquetel molotov e uma outra com líquido inflamável, isqueiro, fósforo, mostrando-se inegável seu intento em utilizar fogo e explosivos na empreitada criminosa".
Henrique foi denunciado por cinco tentativas de homicídio, além de lesão corporal e constrangimento ilegal. O Ministério Público pede que seja mantida a prisão preventiva e que o jovem vá a julgamento pelo Tribunal Popular do Júri de Vitória. Se condenado por todos os crimes, ele pode, em tese, ter uma pena de prisão superior a 50 anos.
Henrique também é investigado pela Polícia Civil da Bahia, em conjunto com a polícia capixaba. Ele teria ligação com um adolescente de 14 anos que, na última segunda-feira (26), matou uma estudante de 19 anos, cadeirante, a golpes de facão durante ataque a uma escola em Barreiras (BA).
Desde a última terça-feira (27), a reportagem tenta falar com a defesa do jovem, sem êxito.
Como foi a ação
Ex-aluno
Henrique Lira Trad, de 18 anos, ex-aluno da EMEF Éber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, Vitória, invadiu a escola no dia 19 de agosto deste ano.
Planejamento após massacre de Suzano
As investigações revelaram que Henrique, após o atentado à escola de Suzano, em São Paulo, em março de 2019, teria participado de uma conversa com colegas, cogitando a hipótese de promover um atentado na escola.
Preparação do ataque
Com o tempo, o jovem passou a se dedicar à preparação do que seria um massacre à escola Eber Louzada Zippinotti, tendo encontrado na internet o ambiente propício para o amadurecimento da idealização criminosa, aprofundando temas correlatos à armas, racismo, nazismo, atentados, morte, bem como à chacina ocorrida na Escola Estadual de Suzano, conforme perícia elaborada a partir de seu computador.
Jogo eletrônico
No dia do crime, ele se preparou para o massacre acessando por horas um jogo eletrônico que, nas palavras do próprio perito, "trata-se de um jogo eletrônico de suspense policial onde o jogador controla uma garota que porta armas e atira em sua escola".
Motorista de aplicativo
Às 13h45, Henrique solicitou uma corrida através do aplicativo Uber, e desembarcou próximo à escola e próximo da vitrine de uma loja.
Roupas e armas
Antes de entrar na escola, ele se vestiu de roupa preta, armando-se ostensivamente de três bestas ou balestras, uma faca grande, seis facas ninja, 57 dardos e flechas, três garrafas de coquetel molotov e uma outra com líquido inflamável, isqueiro, fósforo, luvas, máscara personalizada, além do cadeado utilizado posteriormente para trancar a escola e evitar o socorro às vítimas.
Chegada à escola
Inicialmente, ao chegar ao destino, Henrique tentou ludibriar o porteiro da escola, pedindo para entrar pela porta principal, sob o pretexto de que participaria de uma reunião. Com a negativa, ele se dirigiu até a lateral do colégio e pulou o muro para entrar.
Início do pânico
Já no interior da escola, ele foi até a sala dos professores e quando avistou uma coordenadora, mirou a arma em sua direção e efetuou um disparo, no entanto, o armamento "falhou".
Imediatamente, a vítima e o outro professor que estava na sala correram e fecharam a porta, segurando-a, enquanto Henrique chutava na intenção de abri-la e consumar as mortes, mas foi impedido. Ele foi até o segundo andar onde estariam mais vítimas em potencial (crianças).
Cadeado é usado
Antes disso, Henrique foi até à entrada principal e trancou o portão com cadeado próprio, a fim de impedir a fuga das vítimas e dificultar a entrada de quem pudesse impedir a ação criminosa, segundo a denúncia do Ministério Público.
Disparo
Ainda no primeiro andar, ele efetuou um disparo contra um prestador de serviços do colégio, mas errou a mira e o disparo atingiu o muro.
Criança é ameaçada
Já no segundo andar, Henrique encontrou com um aluno de 10 anos no corredor, constrangendo-o ilegalmente, ordenando que calasse a boca e o acompanhasse, mirando a besta em direção à sua cabeça.
Contudo, antes que pudesse tentar contra sua vida, o menino conseguiu chutar a besta, que caiu no chão, tendo Henrique arranhado o rosto da vítima.
Professora é ferida
Seguidamente, Henrique se dirigiu até a sala do 5º ano, mirou e atirou com a besta contra uma professora e coordenadora, atingindo-a na região da perna. Em seguida, ele mirou e atirou contra uma aluna de 10 anos, mas novamente o armamento "falhou".
Empurrado para fora da sala
Enquanto Henrique tentava recarregar a besta para efetuar mais disparos, uma coordenadora apareceu e conseguiu empurrá-lo para fora da sala de aula.
Coordenadora é confundida
Segundo a denúncia, Henrique confundiu a coordenadora com uma antiga coordenadora e a confrontou de forma odiosa, segundo a denúncia, perguntando se ela seria uma pessoa que ele citou o nome.
Certo de que seria, efetuou um disparo de dardo contra ela, atingindo sua perna.
No momento em que ele armava novamente sua besta para atirar contra essa coordenadora, um professor de Educação Física conseguiu imobilizá-lo até à chegada da Polícia Militar.
Matar e morrer
Ao ser preso, Henrique confessou aos policiais militares "que seu intento era de matar quantas pessoas fosse possível e forçar um confronto com a polícia, esperando que deste confronto ele fosse alvejado e morto.
Fonte: Denúncia do Ministério Público Estadual.