Usiel Carneiro respondeu às alegações relatando que os membros nunca conseguiram comprovar os distanciamentos da doutrina batista
A 3ª Vara Cível de Vitória manteve a decisão de afastamento do pastor Usiel Carneiro da Igreja Batista da Praia do Canto, em Vitória, e ainda aumentou a multa, de R$ 5 mil para R$ 10 mil, em caso de descumprimento.
A Justiça também determinou que ele repasse as senhas dos canais e redes sociais da igreja em 48 horas.
A ratificação da decisão veio após o grupo de 25 ex-membros da igreja alegar que Usiel estaria descumprindo a decisão judicial, ao usar uma das redes sociais da igreja para se manifestar após o afastamento – também solicitado pelo mesmo grupo.
Eles levaram para o culto da noite de domingo (12) cartazes e faixas em protesto contra a decisão judicial e em apoio ao pastor Usiel.
Durante o culto, o Conselho da Igreja – na Igreja Batista, as decisões são tomadas por um conselho de membros – subiu ao púlpito e leu um comunicado para toda a igreja, lamentando a nova decisão.
"Há cerca de dois anos, um pequeno grupo de ex-membros da igreja vem de todas as formas trabalhando para trazer instabilidade para a igreja e retirar o pastor Usiel Carneiro de Souza, pastor eleito e mantido nessa igreja pela vontade da maioria dos membros. Mais uma vez estamos sendo atingidos por decisão judicial que produz mal-estar e impõe prejuízo à nossa caminhada como igreja", disse Ademir Cardoso, 1º vice-presidente do Conselho.
E acrescentou: "Acreditamos na Justiça, não há razão que justifique o afastamento e muito menos a destituição do nosso pastor, como pretendem os que o acusam. Por isso cremos que superaremos mais esse percalço e em breve receberemos o nosso pastor e seguiremos sendo a igreja que Deus tem nos orientado a ser".
Logo após o comunicado, houve uma pequena pregação do pastor auxiliar e, pedindo para encerrar a transmissão, uma mulher, fiel da igreja, convocou os demais membros para um ato em apoio ao pastor.
Os membros ocuparam toda a fachada do prédio e o canteiro central, entre as avenidas Rio Branco e Reta da Penha.
Aos gritos de "Não vamos nos calar, o amor prevalecerá", os membros – cerca de 80% das pessoas que acompanhavam o culto – também levantaram as faixas sobre "liberdade religiosa", e que a "IBPC apoia o pastor Usiel".
Veja o vídeo:
"Este final de semana eu estaria retornando a Vitória e retornando às minhas atividades pastorais, mas o Conselho da igreja, bem como muitos irmãos, receberam cópia de uma determinação judicial, tomada de maneira bem inusitada, porque foi assinada pelo juiz na sexta-feira já perto das 20h", relatou.
Durante o vídeo, o pastor recordou a movimentação realizada por 25 ex-membros da IBPC, que pediam seu afastamento por divergências inconciliáveis com a doutrina batista.
Carneiro respondeu às alegações relatando que os membros nunca conseguiram comprovar esses distanciamentos da doutrina batista e que, cada igreja batista tem autonomia para operar como mais fizer sentido aos seguidores.
"Imagino que a decisão foi encaminhada para um oficial de justiça de plantão para dar cumprimento no final de semana num contexto em que bem claramente traz prejuízos para a gente, dentro de um processo que se arrasta há quase dois anos, movido por um grupo de ex-membros da igreja", relatou.
"Estes membros que no processo interno da igreja tentaram fazer impor a sua vontade, mas não conseguiram, porque nunca tiveram fundamento", disse.
O pastor relatou que enfrenta um processo de desgaste emocional com todo o processo, assim como os seguidores da igreja, que ainda o apoiam.
De acordo com ele, os seguidores é que devem decidir sua permanência ou não, e que diversos ex-frequentadores e pastores de outras denominações perseguem a IBPC por não fazer distinções entre seus fiéis.
"Temos acolhido as pessoas com amor, misericórdia, bondade, sem julgamentos, sem preconceito. Isso tem simplesmente provocado ataques, acusações, escárnio. Seguimos a melhor consciência que temos sobre o que significa o evangelho de Cristo Jesus. Para que tanta perseguição? Acho que isso prova que estamos fazendo o trabalho do Senhor", afirmou.
O pastor conversou com o Folha Vitória e afirmou que continuará atuando pela igreja e que espera que a justiça seja feita.
"Eu me posicionei sobre vários aspectos lá na live. E quanto a mim, sim, vou continuar atuando. Espero que essa questão jurídica seja superada. E os meus planos permanecem os mesmos. Seguir servindo à igreja. Não é a igreja que está em litígio comigo. São pessoas de fora da igreja tentando intervir na vida da igreja. Então, quanto a mim, sim, vou permanecer firme. E apenas espero agora que a justiça seja feita. Que ela reverta esse quadro lamentável em que a gente tem sido envolvido", relatou.
A decisão determinava que o pastor se afaste da direção da igreja no prazo de 48 horas, além de entregar as chaves do local e todas as documentações de gestão do imóvel.
A ação para afastamento foi movida por 40 membros da própria igreja, que afirmavam que o pastor introduzia pautas que iam de encontro à doutrina batista. A queixa passou por deliberação de um Concílio Decisório para apuração do caso.