As altas temperaturas afetaram a produção de abacaxi em Marataízes, no litoral do sul do Espírito Santo. Até então, os produtores do fruto estavam animados com a expectativa da safra deste ano ser melhor do que a anterior.
No entanto, um fator que tem influenciado nos últimos dias é o clima. Mesmo que o clima do estado seja ideal para o cultivo do abacaxi, as duas últimas duas semanas de altas temperaturas colocaram em risco a produção, apresentando frutos maduros com casca amarela e polpa cozida.
Em 2022, a produção de abacaxi gerou R$ 125 milhões aos produtores capixabas, com 46 milhões de unidades produzidas, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Espírito Santo ocupa a décima posição no ranking nacional de produtores da fruta.
A produção concentra-se em 97% no litoral sul capixaba, com destaque para Marataízes, responsável por 58% da produção estadual, e Presidente Kennedy, com 32%. Também se destacam na quantidade produzida os municípios de Itapemirim, São Mateus e Jaguaré, respectivamente.
A safra de abacaxi em Marataízes acontece entre os meses de setembro e dezembro e abastece diversos estados brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Em quase 2 mil hectares dedicados ao cultivo, a atividade representa uma fonte de emprego e renda para os agricultores locais.
Segundo estudos climáticos, praticamente todo o Espírito Santo tem condições climáticas ideais para a produção do abacaxi, com grande possibilidade de expansão do cultivo para regiões que ainda não desenvolvem tanto a cultura.
Apesar da boa produção, os produtores têm enfrentado dificuldades a cada ano para manter as lavouras produtivas. Em 2022, o alto custo de insumos como adubos e a estiagem prolongada de quase seis meses foram os principais obstáculos para os produtores.
Mais de 2 mil famílias vivem da produção da fruta. Apesar do clima inicialmente promissor, a safra agora enfrenta problemas com as altas temperaturas. A estimativa da engenheira agrônoma Mariana Maitan aponta para uma perda de aproximadamente 30% das plantações, devido às recentes ondas de calor, mesmo com o uso de coberturas de papel para proteção das frutas.
Mariana aponta que além das lavouras de abacaxi de Marataízes, problemas similares foram detectados no noroeste fluminense, no Rio de Janeiro.
A cobertura de papel, inicialmente destinada a proteger os frutos do sol, mostrou-se insuficiente. Produtores têm se deparado com uma corrida contra o tempo para evitar maiores perdas, liberando os frutos no mercado antes do planejado.
"Os produtores têm expectativas quanto a possíveis aumentos nos preços durante as festas de final de ano, o que geralmente leva muitos deles a segurar os frutos. Contudo, nos últimos dias, eles adotaram outra estratégia e começaram a liberar os frutos, resultando em uma certa instabilidade no mercado. Observamos que alguns estão direcionando suas frutas para fábricas de polpa, onde estão sendo vendidas a R$ 1 por quilo, um valor abaixo dos habituais 2,80 a 3,40 reais por fruta para venda ao consumidor final. A expectativa para as vendas durante o final de ano é de alcançar a marca de R$ 4", explicou a engenheira agronôma.
Mariana Maitan ressalta a importância da cobertura de papel como uma medida eficiente de proteção. "A recomendação é clara: sem essa precaução, as perdas na produção podem se agravar, comprometendo não apenas os esforços e investimentos desde o plantio até a colheita, mas também a estabilidade econômica das famílias envolvidas", completou Maitan.