A disputa pela Prefeitura de Linhares já está se desenhando, com pré-candidatos colocando o time em campo e os partidos já definindo de que lado irão seguir. E a eleição no maior município do Norte do Estado já conta com uma situação inusitada: os partidos que formam a cúpula do Palácio Anchieta estão divididos no apoio aos cotados.
Até o momento, são quatro pré-candidatos: o atual prefeito, Bruno Marianelli (Republicanos); o deputado estadual Lucas Scaramussa (Podemos), o ex-deputado federal José Carlos Elias (PT) e o produtor rural Maurinho Rossoni (PL).
Com um colégio eleitoral de 122.249 eleitores, o município que é conhecido pela sua economia pujante, é reduto eleitoral do ex-prefeito Guerino Zanon (PSD) que, em 2022, foi adversário do governador Renato Casagrande (PSB) na campanha para governador do Estado.
Embora não tenha ido para o segundo turno, Guerino venceu a eleição para governador no município, obtendo 43,59% dos votos válidos. Uma votação superior que a obtida por Casagrande, que foi reeleito, mas na cidade teve 28,26% dos votos válidos no 1º turno.
O atual prefeito do município, Bruno Marianelli, é do grupo de Guerino e, por mais tenha uma relação boa, republicana, com o governador – diferente de Guerino –, não mantém uma postura de alinhamento total ao Palácio Anchieta. Aliás, Linhares é um dos poucos municípios de médio porte – se não for o único – que tem uma postura mais independente com relação ao governo do Estado.
Não à toa que os olhos do governo estão acompanhando, com bastante atenção, as movimentações em Linhares. Tanto que, num evento nessa semana, Casagrande chegou a citar a disputa. Há um desejo do governo de eleger um aliado no município.
O PSB está no apoio a Lucas Scaramussa, que é um deputado da base aliada e pré-candidato a prefeito de Linhares. Ele conta também com o apoio do governador, que pode, em Linhares, subir no palanque do aliado – algo que Casagrande não deve fazer em todos os municípios.
Mas o que chama a atenção é que, ao mesmo tempo que o partido do governador está na base de Lucas, o MDB, presidido no Estado pelo vice-governador Ricardo Ferraço, caminha com o atual prefeito, assim como o PP, que também é um partido da base aliada de Casagrande.
Saiba quem já se movimenta para a disputa:
Ao decidir mudar de partido (do MDB para o PSD) e disputar a eleição para governador do Estado em 2022, o então prefeito Guerino Zanon teve de renunciar ao cargo.
Ele estava em seu quinto mandato como prefeito e passou o comando da prefeitura para seu pupilo e vice, Bruno Marianelli (Republicanos), que agora deve enfrentar as urnas para manter o grupo político no poder.
Bruno ainda não teve a pré-candidatura à reeleição lançada e nem anunciou publicamente suas intenções – o que deve ocorrer no mês que vem. Mas, nos bastidores, tem até marqueteiro acertado e já estaria contando com Guerino, de corpo e alma, atuando na pré-campanha.
Formado em Administração e filiado ao Republicanos, Bruno contaria também com o apoio dos partidos PSD, DC, PP e MDB. O partido que indicaria o nome do vice ainda não foi definido, mas nos bastidores, a negociação corre solta.
O deputado Lucas Scaramussa já foi advogado e secretário, por dois mandatos, do ex-prefeito Guerino. Era visto como um possível sucessor do ex-prefeito até que a eleição de 2018 estremeceu a relação dos dois.
Lucas teria trocado de partido (do PSDB para o MDB) a pedido de Guerino o que, na visão do deputado, teria sido decisivo para que perdesse a disputa por uma cadeira da Assembleia Legislativa naquele ano.
Depois desse episódio, em que passou a culpar Guerino pela sua derrota, os dois se afastaram e Lucas acabou lançando candidatura contra o ex-aliado em 2020. Ficou em segundo lugar, com 29,01% dos votos válidos contra Guerino, eleito com 54,44% da votação.
Advogado e professor universitário, Lucas é filiado ao Podemos e contaria com o apoio dos partidos PSB, PSDB, União Brasil, SD e PRD. O vice ainda não foi definido, mas um nome passou a ser ventilado nos últimos dias: o do diretor-presidente do Incaper, Franco Fiorot, que é filiado ao União Brasil e deixa o cargo de ordenador de despesas nos próximos dias, cumprindo assim uma exigência da legislação eleitoral para uma eventual disputa.
O ex-deputado federal e ex-prefeito de Linhares José Carlos Elias se filiou ao PT nesse ano para tentar voltar à Prefeitura de Linhares que já esteve sob seu comando por dois mandatos (1993 a 1996 e 2005 a 2008).
Zé Carlos já foi filiado ao MDB, mas a maior parte de sua carreira política cumpriu no PTB. Nas últimas eleições, sob o comando de Roberto Jefferson, o PTB deu uma guinada radical à direita e foi base de apoio do governo Bolsonaro. No ano passado, fundiu com o Patriota, formando o PRD.
O ex-deputado foi apresentado com festa, pela militância do PT, como pré-candidato a prefeito do município. Ele teve até a pré-candidatura homologada, pela Executiva nacional petista, no último dia 20, porém, ainda há dúvidas se ele poderá mesmo concorrer.
Isso porque ele foi alvo de condenações na Justiça, por corrupção passiva, num esquema criminoso que ficou conhecido como "Máfia dos Sanguessugas" – que consistia em fraudes nas licitações para adquirir ambulâncias, equipamentos médicos e odontológicos para prefeituras. As licitações eram direcionadas e, em troca, os envolvidos recebiam propinas.
As condenações – a última foi em 2017 – fizeram com que o ex-prefeito caísse na Lei da Ficha Limpa e ficasse inelegível. Segundo a presidente do PT em Linhares, Tereza Brandão, a defesa de Zé Carlos e o partido estão trabalhando no processo.
O PL também terá um representante nas eleições de Linhares. Trata-se do produtor rural e engenheiro agrônomo Maurinho Rossoni, que foi candidato a vice-prefeito em 2020, na chapa encabeçada por Lucas Scaramussa. Na época, ele estava filiado ao PSD.
Maurinho também já foi secretário de Agricultura do município e atuou no Incaper. Em suas redes sociais, além de falar da experiência da colheita de cacau, também exibe fotos com o ex-presidente Jair Bolsonaro e vídeos com lideranças do PL no Estado em discursos anunciando sua pré-candidatura. Ele se identifica como liberal, da direita conservadora, mas não extremista.
O projeto do PL é ter candidatura própria na maior parte dos municípios. O que tem sido visto, nos anúncios do partido até agora, é que também, na maioria dos casos, as chapas devem ser puro-sangue, ou seja, sem coligação com outros partidos.
A coluna não conseguiu contato com Maurinho e nem com nenhuma liderança do PL na cidade. Ao que tudo indica, o nome que irá compor a chapa com o engenheiro como vice ainda não foi definido.
O ex-deputado estadual e ex-prefeito Luiz Durão, em toda eleição, tem o nome ventilado para a disputa. Nessa, não é diferente. Dependendo pra quem se pergunta, ele é mais ou menos cotado, mais ou menos favorito. Mas, por ora, a decisão ainda é um mistério.
Durão é presidente do PDT em Linhares e conta com certo poder no partido, além de ser aliado de primeira hora do prefeito da Serra, Sergio Vidigal – maior liderança pedetista no Estado.
Teoricamente, cabe ao dirigente municipal definir se o partido terá candidatura própria ou não. Nos bastidores, Durão estaria conversando com Lucas Scaramussa, que está em busca do apoio do ex-deputado para sua pré-candidatura. Mas nenhum martelo foi batido até agora.
Durão foi procurado pela coluna para falar sobre qual posição irá tomar nas eleições, mas não retornou até o fechamento. Outras lideranças pedetistas ouvidas evitam cravar qual será a decisão do ex-deputado.