Na entrevista especial da semana, Alyssa Miranda, médica oncologista fala sobre o câncer de pele, tratamentos, prevenção e mitos e verdades sobre a doença
O verão começa só no dia 21 deste mês, mas a as ondas de calor que vêm atingindo o Brasil e o Espírito Santo têm aumentado a atenção para os cuidados com o maior órgão do corpo humano: a pele. Todos os anos, no mês de dezembro, a campanha Dezembro Laranja vem alertar a população para a necessidade de cuidados para evitar o envelhecimento precoce, manchas e o mais importante: o câncer de pele.
O câncer de pele, como o próprio nome já sugere, é um tipo de câncer que se desenvolve nas células da pele (epiderme). Trata-se de uma célula que sofreu uma mutação e passa a se desenvolver sem um controle do organismo.
O fato é que a doença é séria e pode, sim, matar. Por isso é importante conhecer os sinais e buscar ajuda profissional. A doença, de modo geral, não é agressiva, mas tem formas severas e se não houver tratamento adequado pode se tornar mais avançada se espalhando para órgãos vitais.
Os números do câncer de pele não melanoma no país chamam a atenção. Para se ter uma ideia, é o mais comum entre todos os tipos de câncer. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), representa 31,3% do total de casos diagnosticados no país.
Sobre o problema, mitos e verdades, como prevenir e os tratamentos mais modernos, o Folha Vitória conversou com a médica oncologista Alyssa Miranda, cofundadora do projeto Ellas Oncologia. Alyssa é Membro da Sociedade Brasileira de Oncologia, tem pós-graduação em cuidados paliativos e nutrologia oncológica.
1 - O que é o câncer de pele?
Alyssa Miranda - O câncer de pele é uma doença em que células da pele se tornam anormais e crescem descontroladamente, podendo formar tumores. Esse tipo de câncer é o mais comum em muitas partes do mundo, especialmente em países com alta exposição solar.
2 - Qual o tipo mais comum no Brasil?
O tipo mais comum é o carcinoma basocelular, que geralmente aparece como uma lesão pequena, brilhante ou com crostas, principalmente em áreas expostas ao sol, como rosto, pescoço e mãos. Ele tende a crescer lentamente e raramente se espalha para outras partes do corpo.
3 - O câncer de pele tem cura? Quais os avanços da medicina para tratar a doença?
Sim, o câncer de pele tem cura, especialmente quando diagnosticado e tratado precocemente. O tratamento depende do tipo de câncer de pele, do estágio da doença e da saúde geral do paciente.
Para os tipos mais comuns, como o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular, as taxas de cura são muito altas, e os tratamentos, como cirurgia, crioterapia (congelamento da lesão), radioterapia ou até terapias tópicas, costumam ser eficazes.
O melanoma, por ser mais agressivo, requer um tratamento mais complexo, como a remoção cirúrgica da lesão, podendo envolver também radioterapia e quimioterapia. O tratamento dessa doença avançou muito nos últimos anos, especialmente com o uso de imunoterapia e terapias-alvo, que mudaram a história natural da doença.
Quando o melanoma é diagnosticado em estágios iniciais, as chances de cura são bastante altas. No entanto, em estágios avançados, o risco de metástase (espalhamento para outras partes do corpo) aumenta, tornando o tratamento mais desafiador. Portanto, a chave para a cura do câncer de pele é a detecção precoce.
4 - Quais sinais na pele precisam de atenção para buscar auxílio médico?*
Os principais sinais incluem:
- Mudanças em pintas ou manchas existentes (forma irregular, cor desigual, aumento de tamanho, mudança de textura ou novas lesões).
- Alterações na pele ao redor de uma lesão (vermelhidão, inchaço, coceira, dor ou sensibilidade).
- Lesões ulceradas ou feridas que não cicatrizam.
É essencial consultar um dermatologista se notar qualquer uma dessas alterações.
5 - É possível prevenir o câncer de pele? Quais os meios mais eficientes?
Embora não seja possível prevenir completamente o câncer de pele, é possível reduzir significativamente o risco adotando medidas de proteção. As principais formas de prevenção incluem:
- Evitar a exposição solar excessiva, especialmente entre 10h e 16h.
- Usar protetor solar de amplo espectro (FPS 30 ou superior), reaplicando a cada duas horas ou após nadar ou suar.
- Usar roupas com proteção UV, chapéus de abas largas e óculos de sol.
- Evitar câmaras de bronzeamento artificial.
- Fazer autoexames regulares e consultar um dermatologista anualmente.
Essas medidas, combinadas à vigilância constante, podem reduzir o risco de desenvolver a doença.
Os principais fatores de risco incluem:
Exposição solar excessiva e queimaduras solares frequentes.
- Uso de câmaras de bronzeamento artificial.
- Pele clara, cabelos ruivos ou loiros, olhos claros e presença de muitas pintas.
- Histórico pessoal ou familiar de câncer de pele.
- Sistema imunológico enfraquecido.
- Exposição a substâncias químicas, como arsênio.
A combinação de fatores genéticos e ambientais reforça a importância da prevenção e do acompanhamento médico.
7 - Queimadura solar pode virar câncer? Mito ou verdade?
Verdade. Queimaduras solares aumentam o risco de câncer de pele, especialmente se forem repetidas e graves. A radiação UV pode causar danos ao DNA das células da pele, levando ao desenvolvimento de tumores.
8 - Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de pele corresponde a 33% dos casos de câncer no Brasil. É preciso falar mais sobre a doença?
Sim, é fundamental informar melhor a população sobre o câncer de pele. Apesar de sua alta incidência, muitas pessoas subestimam os riscos e desconhecem a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e dos cuidados com a saúde da pele.