A Justiça condenou Elismar Conceição de Jesus, Jardel Alves dos Santos e Valdir Gonçalves à prisão pelo assassinato de Valéria Ferrugini, a "Teteia", de 58 anos, dona de um salão de beleza, morta dentro de casa no Centro de Nova Venécia, no Noroeste do Espírito Santo, no fim de julho do ano passado. O trio foi condenado por latrocínio (roubo seguido de morte) e pelo estupro da vítima. A Gazeta teve acesso à sentença assinada no dia 17 de dezembro, e traz os detalhes da condenação de cada réu.
31 anos e 5 meses de prisão para Jardel Alves dos Santos
Jardel Alves dos Santos recebeu a pena de 31 anos e 5 meses de prisão. Na sentença, obtida por A Gazeta, o juiz Ivo Nascimento Barbosa afirmou que "a culpabilidade se revela desfavorável (ao réu), eis que (ele) cometeu o crime de forma premeditada, inclusive se valendo da confiança da vítima em permitir a entrada em sua residência, evidenciando maior reprovabilidade da conduta".
O magistrado acrescentou que as circunstâncias também são desfavoráveis a Jardel, "na medida em que praticou o delito no período noturno e em concurso de pessoas, de forma a facilitar a execução da conduta, eis que a vítima teve suas mãos e pernas amarradas, inclusive a boca amordaçada, ocasionando uma morte de forma abrupta". Jardel teve a pena atenuada pela confissão do crime, mas a circunstância agravante de ser reincidente foi considerada na dosimetria da pena, segundo o juiz.
A sentença ressalta que o réu Jardel Alves dos Santos, durante o interrogatório perante o juiz, "confessou a prática do crime, relatando que, no dia anterior ao ocorrido, foi chamado por Elismar para 'ir em tal lugar'. No dia do crime, foram até a residência da vítima, chegando a permanecer em frente ao local, e a mesma permitiu que entrassem na casa. No interior do imóvel, fizeram uso de cocaína, quando a vítima 'se assustou e veio pra cima de nós', momento em que ele a segurou, e Elismar desferiu socos em sua cabeça, fazendo com que ela caísse na posição em que foi encontrada".
O réu relatou ao juiz que chegou a se masturbar próximo à vítima, enquanto ela ainda estava viva, "e ele também", assumindo ter sido o responsável por amordaçar a boca da vítima e amarrar suas pernas e mãos, enquanto as agressões físicas foram cometidas por Elismar. Acrescentou que, na companhia de Elismar, pegaram as televisões da casa e as colocaram no carro. Informou que Valdir foi chamado para "fazer um frete pra nós" com a justificativa de que iriam cobrar uma dívida. Esclareceu que a quarta pessoa envolvida não era seu irmão.
A sentença detalha que o réu afirmou não conhecer a vítima e que, no dia dos fatos, estava em um bar consumindo drogas com Elismar. Disse ainda que, quando Valdir chegou ao local, foi convidado a fazer o frete em troca de um "corote de pinga" e dinheiro. Segundo ele, explicaram a Valdir que iriam cobrar uma dívida e, caso a pessoa não pagasse, "pegariam algumas coisas dele".
29 anos de prisão para Elismar Conceição de Jesus
Elismar Conceição de Jesus foi condenado a 29 anos de prisão. Na sentença, o juiz destacou que, ao calcular a pena, levou em consideração o fato de o réu não possuir antecedentes criminais e a ausência de registros negativos sobre sua conduta social, ressaltando que o objetivo do condenado era o "lucro fácil".
O magistrado também descreveu todos os detalhes da crueldade do crime para evidenciar o que classificou como a "reprovabilidade da conduta" de Elismar, considerando "o crime de forma premeditada, inclusive se valendo da confiança da vítima em permitir a entrada em sua residência".
O documento relata que, ao ser questionado, Jardel confessou que sua intenção e a de Elismar era subtrair bens da vítima. Ele informou que chegaram ao local por volta de sete ou oito horas e permaneceram ali por cerca de 30 minutos. Negou ter torturado a vítima, mas admitiu tê-la segurado pelo pescoço, enforcando-a, enquanto Elismar desferia socos em sua têmpora, até que ela desmaiasse. Posteriormente, a vítima foi colocada na posição em que foi encontrada.
De acordo com a sentença, Elismar ficou em silêncio na oportunidade de esclarecer os fatos diante do juiz. Negou ter participado diretamente do homicídio, alegando que somente ficou vigiando no corredor do local, e não sabia quem entrou na residência.
Jardel declarou que ficou sujo com o sangue da vítima, assim como Elismar, mas alegou que Valdir não percebeu essa situação devido à escuridão do local. Por fim, afirmou que não violentou a vítima.
7 anos e 4 meses de prisão para Valdir Gonçalves
Valdir Gonçalves foi condenado a 7 anos e 4 meses de prisão por sua participação no roubo, atuando como responsável por dar cobertura e auxiliar na fuga dos assassinos.
Consta na sentença que Valdir, ao ser interrogado em juízo, negou participação no crime e afirmou não ter conhecimento das intenções dos outros réus. Ele declarou que foi contratado "pelos meninos" para realizar um frete, semelhante a um transporte de aplicativo, pois eles disseram que tinham um dinheiro para receber. Segundo Valdir, receberia R$ 40,00 pelo serviço.
Ele afirmou que os acusados pediram para que aguardasse por um momento e, ao retornarem, estavam com os objetos da vítima. Valdir ressaltou que não percebeu nada de estranho na situação. Acrescentou que Jardel e Elismar entraram na residência e negou ter visto que estavam sujos de sangue.
Prisão do trio mantida
Na sentença, o juiz Ivo Nascimento Barbosa manteve a prisão preventiva de Elismar, Jardel e Valdir. Os lançou no rol dos culpados e os condenou ao pagamento das custas do processuais.
A cronologia do crime
- Valéria Ferrugini, a "Teteia", de 58 anos, era dona de um salão de beleza há mais de 30 anos em Nova Venécia. Ela foi encontrada morta dentro de casa em 24 de julho de 2024. Valéria era uma mulher trans.
- Segundo a Polícia Militar, o corpo da vítima estava de joelhos no chão e com parte do tronco sobre a cama. Além disso, também apresentava sinais de violência e estava nua na parte inferior.
- Os três suspeitos, Elismar Conceição de Jesus, Jardel Alves dos Santos e Valdir Gonçalves, foram presos em flagrante no mesmo dia do crime e autuados por latrocínio, sendo encaminhados para o sistema prisional.
- No dia 23 de agosto de 2024, a Polícia Civil indiciou o trio. O delegado Willian Dobrovosk, titular da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Nova Venécia, citou que vídeos de câmeras de segurança registraram a movimentação dos suspeitos.
- "Os vídeos mostram a movimentação dos suspeitos entrando na casa e também saindo para o carro com objetos que foram roubados da casa da vítima. "As provas que tínhamos eram robustas para esclarecer a participação de cada um. As principais são as imagens de videomonitoramento. Um policial também identificou um deles, que o conhecia desde quando era criança, e a partir dele foi possível identificar o coautor, o motorista do carro e o carro", afirmou Dobrovosk.
- A perícia no local constatou que a dona de salão sofreu muitas pancadas na cabeça e também foi sufocada, causando traumatismo craniano e asfixia, e que Valéria não teve chance de reagir. "O nosso desafio é tentar entender o que aconteceu neste período de uma hora. Foi uma cena muito violenta", disse o delegado.
- As imagens obtidas também mostraram os suspeitos comemorando o crime, ao fim, segundo o delegado.
- Após a coleta de material pela Polícia Científica foi verificado que havia sangue e também foi identificada a presença da substância conhecida como PSA, indicando a presença de espermatozoide no corpo da vítima. "Foram identificadas marcas de sangue na vítima, no sentido que houve uma relação não consentida", disse o delegado.
A Gazeta