Empresários afirmam que atraso na chegada de navios é manobra para controlar a oferta, forçando tanqueiros a buscar fora do Estado
A defasagem entre os preços internos dos combustíveis e as cotações internacionais aumentou a pressão do setor por reajustes da Petrobras, sobretudo do diesel — que se descolou das cotações internacionais do petróleo nas últimas semanas — e traz cenários preocupantes.
Um deles, é o racionamento seletivo na oferta dos produtos, problema que já é realidade no Estado, segundo donos de postos e empresários do setor. Há quem afirme que o atraso na chegada de navios-tanques seria uma manobra para racionar combustíveis.
O presidente da Federação do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda, explica que a situação imposta provoca esse racionamento seletivo no setor, ao reduzir o poder de competição das empresas menores.
"Aquelas distribuidoras pequenas, que têm compra muito menor das refinarias, não conseguem fazer a importação, pagando muito mais caro e misturando com produtos que compram da Petrobras aqui. Então, acabam alijadas do processo", frisou.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística no Estado (Transcares), Luiz Alberto Teixeira, observa que o momento é delicado.
"O racionamento seletivo de combustível já está acontecendo no Estado. O Brasil só é autossuficiente em produto refinado em 80%. Então, 20% é importado, a maioria dos Estados Unidos. Como lá também está com problema por causa da guerra que está acontecendo, os Estados Unidos estão exportando menos. Isso também está afetando bastante a nossa aquisição de produto do exterior".
Com isso, os tanqueiros que transportam gasolina e derivados estão indo buscar o produto nas refinarias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. "O Espírito Santo não tem refinaria. Tem um custo para ir buscar".
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Espírito Santo (Sindipostos-ES), confirma o cenário.
"Os postos capixabas já veem vivendo este cenário de racionamento nos últimos meses, com agravamento nas duas semanas. A situação nacional se agrava no Espírito Santo em função da nossa estrutura logística e de armazenagem defasada diante da demanda atual", afirmou o Sindipostos-ES.
As operações portuárias estão dentro da normalidade e não há qualquer situação excepcional nos terminais do Porto de Vitória, segundo a Codesa. Dois navios-tanques estão área de fundeio.
A previsão, passada ontem pela Codesa, era de que um deles, com 16.100 toneladas de gasolina e 9.600 toneladas de diesel, atracará nas primeiras horas de hoje.
Findada essa operação, outro navio, que chegou ontem, irá atracar. Ele está carregado com mais 13.900 toneladas de diesel.
Mas, para o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística no Estado (Transcares), Luiz Alberto Teixeira, a chegada desses dois navios dá um "respiro", mas não é suficiente para resolver a escassez do produto.
"A média desses navios que atracam aqui é de 15 milhões de litros. No Estado, nós consumimos 210 milhões de litros/mês. Precisamos do navio desse atracado um dia sim, um dia não, o que não está acontecendo".
O diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Cláudio Mastella, garantiu ontem que não há risco de desabastecimento.
Segundo ele, o mercado está suprido tanto pelo refino brasileiro quanto pelas importações da Petrobras e de terceiros. "Os estoques estão confortáveis".