Das cinco principais queixas do ranking do Banco Central, quatro são questões ligadas a falhas na segurança, no sigilo e na legitimidade das transações
O roubo ou furto de celular pode deixar prejuízos maiores do que a perda do aparelho. Há casos em que os criminosos conseguem desbloquear o celular ou levá-lo já desbloqueado, o que permite transferência de alta quantia em dinheiro, além de compras, empréstimos e pagamentos de contas usando o nome da vítima.
Das cinco principais queixas do ranking do Banco Central, quatro são questões ligadas a falhas na segurança, no sigilo e na legitimidade das transações. Somente no quarto trimestre de 2021, foram 7.019 reclamações do tipo, de um total de 18.681 queixas recebidas pela instituição, conforme os dados mais recentes disponíveis.
As queixas envolvem situações como as de compras no cartão de crédito sem autorização do cliente, demora para devolver valores pagos indevidamente, resgate de investimentos sem autorização e transações não reconhecidas no internet banking.
A ação dos criminosos ocorre, principalmente, quando conseguem levar o aparelho já desbloqueado enquanto a vítima digita uma mensagem ou atende uma ligação na rua, por exemplo, ou até mesmo dentro do carro, caso esteja com vidro aberto ou não [há casos em que os assaltantes quebram os vidros]. Mas também há situações em que os criminosos conseguem desbloquear o aparelho.
Esse tipo de crime está em queda no estado de São Paulo, segundo dados da SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública de São Paulo), mas segue trazendo estragos financeiros às vítimas. Em janeiro e fevereiro deste ano, foram registradas 31.610 ocorrências de roubo de celular em São Paulo. No mesmo período de 2021, foram 33.994 casos. Antes da pandemia, nos dois primeiros meses houve 43.380 registros de roubo de celular.
VÍTIMA DEVE BLOQUEAR APPS E CELULAR RAPIDAMENTE
Especialista em segurança na internet, Cristian Souza, professor do Instituto Daryus de Ensino Superior Paulista (Idesp) e consultor em cibersegurança da Daryus Consultoria, diz que quanto antes o cidadão que for vítima de roubo ou furto agir, mais rapidamente ele consegue evitar que um prejuízo maior ocorra.
"É preciso desabilitar todos os usuários que estão conectados. Isso é feito a distância, em um computador ou outro celular. O sistema vai perguntar se você quer desconectar todos os dispositivos, diga que sim. Lembre-se de todos os aplicativos que têm instalado e vá desconectando, como Gmail, WhatsApp, Instagram e Facebook", ensina.
Outra forma de se proteger é apagar todos os aplicativos ou dados a tempo. "Se você conseguir apagar todos os dados a tempo, antes que a pessoa consiga liberar o aparelho ou alterar sua senha, estará protegido", diz Souza.
O QUE FAZER ASSIM QUE SEU CELULAR FOR ROUBADO
1 - Apague dados e aplicativos de forma remota
É necessário acessar um computador ou outro celular para ter acesso remoto aos seus aplicativos e apagá-los ou desconectar suas contas.
Para desconectar suas contas:
> Acesse google.com.br e entre em sua conta
> Do lado direito da tela, acima, clique sobre a letra de seu nome
> Vá em "Gerenciar sua conta Google" e, na página seguinte, clique em "Segurança", à esquerda
> Em "Seus dispositivos", abaixo, acesse "Gerenciar dispositivos"
> Vá em "Mais detalhes", e, em seguida, "Sair"
> Também é possível limpar seu celular de forma remota.
Para celulares Apple:
> Acesse icloud.com/find
> Informe email e senha
> Na próxima página, clique em "Todos os dispositivos" e, depois, vá em "Apagar iPhone"
Para celulares Android:
> Acesse android.com/find
> Informe login e senha
> Do lado direito da tela, clique sobre o dispositivo roubado
> Vá em "Ativar bloqueio e limpeza" e, depois, em "Limpar dispositivo"
2 - Faça o bloqueio da linha telefônica e avise seu banco
Ligue para sua operadora de celular e informe o número do Imei (Identificação Internacional de Equipamento Móvel, em português) para cancelar seu chip e bloquear seu aparelho
O Imei é um número anotado na caixa do celular, geralmente em uma etiqueta branca
Também acione seu banco e avise-o sobre o roubo ou furto para que seja feito o bloqueio do app
3 - Registre um boletim de ocorrência
Depois de mudar as senhas e bloquear o seu celular ou apagar o dispositivo a distância, faça um boletim de ocorrência
O registro da ocorrência pode ser online; no estado de São Paulo, o site para registrar a queixa é delegaciaeletronica.policiacivil.sp.gov.br
O ideal é fazer o boletim o mais rápido possível, para estar protegido caso seja vítima de fraudes e roubos online com o celular que foi tirado de você
Fontes: Cristian Souza, professor no Idesp (Instituto Daryus de Ensino Superior Paulista) e consultor em cibersegurança da Daryus Consultoria, e laboratório dfndr, da PSafe
Emilio Simoni, executivo-chefe de segurança da PSafe, empresa de segurança na internet, diz que a segurança tecnológica dos apps de bancos no Brasil coloca os aplicativos entre os mais seguros do mundo, mas os criminosos já compartilham, entre si, informações sobre como desbloquear cada um.
"Os criminosos sabem conseguir coisas que nem os clientes conseguem. É importante sempre ativar todos os mecanismos de segurança. Um dos mais eficazes é o bloqueio rápido de tela", diz.
O delegado Laércio Ceneviva Filho, da divisão de crimes cibernéticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), afirma que a Polícia Civil vem agindo para prender quem rouba e quem faz a receptação e tem investigação em curso para entender como funciona a ação tecnológica das quadrilhas.
Ele afirma ainda que esse tipo de roubo, em que o assaltante leva o celular desbloqueado, é uma nova prática na atuação criminal e dá dicas para não ser vítima. "A recomendação é não deixar o aparelho à vista, especialmente quando tiver que ligar um aplicativo de geolocalização. O ideal é colocar no colo, no assoalho e jamais trafegar com o veículo com o vidro aberto."
O QUE FAZER SE O DINHEIRO FOR ROUBADO
Guilherme Farid, diretor executivo da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP), diz que tentar bloquear a ação dos assaltantes sendo rápido e apagando aplicativos ou mudando senhas é essencial, mas cancelar o chip e avisar o banco sobre o ocorrido e, depois, registrar um boletim de ocorrência, são formas de se proteger caso haja prejuízo financeiro maior.
Segundo ele, há uma discussão legal sobre quem deve arcar com o prejuízo em caso de roubo ou furto de celular - ou até mesmo golpes online-, mas o Procon tem entendido que a questão vai além da segurança pública e, do ponto de vista do direito do consumidor, o banco deve ser responsabilizado caso autorize operações fora do habitual.
"As instituições bancárias deveriam estar atentas a movimentações que são feitas nas contas dos consumidores e fogem por completo do perfil de consumo. Há dados para fazer esse monitoramento", diz.
A vítima de roubo do dinheiro online que não for ressarcida ou atendida pelo banco pode fazer uma reclamação no Procon, por site (procon.sp.gov.br) ou aplicativo, em "Faça sua reclamação". É preciso ter cadastro. Caso contrário, o consumidor pode fazer na hora.
O prazo dado pela instituição para resposta aos consumidores é de até dez dias. Segundo dados do órgão, de julho de 2021 até o dia 10 de maio deste ano, foram feitas 318 queixas no Procon relativas a clonagem, fraude, furto e roubo.
E SE O BANCO NÃO ME RESSARCIR OU DEMORAR A DAR UMA RESPOSTA
A principal orientação do Banco Central é avisar seu banco e registrar um boletim de ocorrência. Se, mesmo após fazer todos os bloqueios, o dinheiro for levado da conta por meio de operações não reconhecidas pelo consumidor, é preciso pedir o ressarcimento direto nas instituições bancárias.
Por lei, cabe ao banco a análise para fazer o ressarcimento, ou seja, o cliente passará por um período de investigação e deve esperar uma resposta. Cada banco tem seu prazo.
Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), cada instituição financeira tem sua própria política de devolução, que é "baseada em análises aprofundadas e individuais, considerando as evidências apresentadas pelos clientes e informações das transações realizadas".
Se a situação não for resolvida, a orientação do Banco Central ao cidadão é procurar o Procon ou a Justiça. Também é possível registrar uma reclamação no BC contra o banco. Embora o Banco Central não atue efetivamente para a resolução do caso, essa é uma forma de fiscalização das instituições financeiras.
SAIBA COMO REGISTRAR A RECLAMAÇÃO NO BANCO CENTRAL
1. Acesse o site bcb.gov.br
2. Na página inicial, vá em "Acesso à informação", acima, à esquerda
3. Em seguida, clique em "Fale conosco"
4. Clique em "Reclamação contra instituição financeira" e, depois, em "Registrar reclamação"
5. É possível acessar com a senha do sistema gov.br ou cadastro do Banco Central (para quem não tem o cadastro, o sistema de novos registros está fora do ar)