Alerta foi feito por diretores da Petrobras. Escassez do produto é mundial e foi agravada especialmente pela guerra na Ucrânia
Diretores da Petrobras fizeram um alerta ao governo federal sobre uma possível falta de diesel no País ainda este ano. O alerta foi direcionado para o terceiro trimestre, época em que o transporte de soja, principal commodity brasileira, chega ao auge e demanda mais combustível.
A escassez e o consequente encarecimento do diesel foram impulsionados pela invasão russa da Ucrânia. Paralelamente, a desvalorização do real frente ao dólar elevou o valor do combustível.
O comunicado vem no meio de uma série de mudanças que envolvem a estatal. O governo federal anunciou, na segunda-feira, 23, mais uma troca na presidência da Petrobras — a quarta em dois anos.
Quem assume o cargo é Caio Mário Paes de Andrade, em substituição a José Mauro Coelho, indicado no último dia 6 de abril. Coelho foi demitido por conta dos preços dos combustíveis, justamente em ano eleitoral.
No Estado, caso a falta do diesel se confirme, especialistas preveem impacto forte, principalmente na indústria, de acordo com o associado do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (IBEF-ES), Fabrício Norbim.
"O Brasil não é autossuficiente no diesel e, ao mesmo tempo, há uma forte demanda. Temos capacidade para explorar, mas não no refino. Assim, dependemos da importação, principalmente dos EUA, que, em razão da demanda, tem destinado a maior parte para a Europa. Por isso, a importância da paridade internacional", disse Norbim.
O fornecimento de diesel tornou-se uma preocupação global desde que as sanções contra a Rússia reformularam o comércio de combustível e levaram os estoques internacionais para mínimos históricos.
Há ainda a preocupação com o preço da gasolina, que está há 74 dias sem reajuste. Trata-se do maior intervalo sem reajustes em mais de dois anos e meio.
A Petrobras disse ainda que a empresa e outros importadores terão dificuldades para garantir o diesel em meio à escassez mais grave do combustível em 14 anos.
"Se a Petrobras parar de vender diesel a preços internacionais por mais de duas ou três semanas, há uma chance de as bombas secarem", disse um alto executivo de uma grande produtora de diesel.
A diferença entre os preços nacionais e internacionais "aumentou nas últimas duas semanas". A média da defasagem está em torno de 15%, segundo cálculos da estatal.
Executivos da Petrobras sugerem subsídios
Executivos da Petrobras, cujos estatutos proíbem a venda de combustível com prejuízo sem compensação, sugeriram que o Brasil poderia cortar impostos ou subsidiar combustíveis aos consumidores, citando o exemplo de vários países da União Europeia.
Os subsídios aos combustíveis custaram ao Brasil cerca de R$ 7,5 bilhões (US$ 1,6 bilhão) em 2018, quando o ex-presidente Michel Temer os implementou por alguns meses para interromper um protesto nacional de caminhoneiros.
O custo de uma medida semelhante este ano pode ultrapassar os R$ 60 bilhões, estimou uma das pessoas próximas às discussões.
A invasão da Ucrânia pela Rússia elevou os preços do petróleo bruto para o maior valor em 14 anos. Este mês, a escassez global levou os comerciantes de diesel a pagar um prêmio de mais de US$ 50.
No máximo, os estoques brasileiros de diesel podem cobrir cerca de um mês da demanda nacional. Na Petrobras, os suprimentos estão com cerca de metade da capacidade, segundo duas fontes.
O Brasil registra maiores embarques a partir do segundo semestre com a entrada da segunda safra de milho, que se soma a exportações de soja. A maioria dos grãos chega aos portos por meio de longas rotas de caminhões.
A empresa começou a recorrer a fornecedores mais distantes na África Ocidental e na Índia, disse uma das fontes. Mas enquanto uma carga de diesel do Golfo leva de duas a três semanas para chegar ao Brasil, um navio da Índia pode levar de 45 a 60 dias.
"Se as refinarias nos EUA forem danificadas por furacões, ou qualquer outra coisa contribuir para um mercado mais apertado, podemos estar com problemas reais", disse um executivo da Petrobras.
"É assunto da diretoria"
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira, 24, que cabe ao CEO e à diretoria da Petrobras tratar do preço de combustíveis.
"O Presidente indica o ministro. O ministro indica o conselho. O conselho indica o CEO e a diretoria. E o CEO e a diretoria que falam de política de preços", afirmou o ministro em Davos, na Suíça.
Perguntado se a reação do mercado à demissão do presidente da Petrobras seria equivocada, Guedes respondeu: "Certamente".
O novo comando da Petrobras vai trabalhar para segurar os reajustes de combustíveis e dar mais "previsibilidade" de preços em tempos de guerra na Ucrânia, e isso pode levar até mesmo à mudança no estatuto da estatal para que a União não precise bancar prejuízos por uma mudança da política de preços.
O presidente Jair Bolsonaro quer reduzir a frequência dos reajustes. O governo não descarta suspender a paridade de preços com o mercado internacional em momentos de crise.
A barreira da Lei das Estatais, que obriga qualquer estatal a ser gerida como empresa privada, pode ser contornada na avaliação de integrantes do governo.
Um dos argumentos de auxiliares do Presidente é de que o risco de imagem para a companhia também é levado em conta pelas empresas privadas em momentos de crise.
ENTENDA
Troca na presidência
País pode ficar sem diesel
E a gasolina?
Pedido por subsídio
Fonte: Portal UOL e Agência Globo.