O Fantástico acompanhou o drama da pequena Nicolly, que nasceu com anemia falciforme. Mesmo já separados, os pais se juntaram para gerar a irmãzinha que ela precisava para o transplante de medula, e a bebê acabou transformando a vida da família para sempre.
Durante um ano e meio, o Fantástico acompanhou o drama da pequena Nicolly, que nasceu com uma doença muito grave. Mas uma bebezinha chegou para transformar o destino de toda a família. Nicolly precisava de um transplante de medula.
Com 8 dias de vida, os pais receberam um telefonema perturbador: a menina tinha anemia falciforme.
"É uma doença hereditária, as crianças nascem com um defeito na produção do sangue", explica a médica Adriana Seber.
Esse "defeito" é no formato das hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue. Em vez de ser como um disco flexível que passa livre por todos os vasos, o glóbulo vermelho acaba sendo repuxado pela doença até ficar na forma de uma foice. As células vão enganchando umas nas outras.
"Isso faz com que os glóbulos vermelhos da criança entupam várias artérias do corpo. Então, qualquer lugar do corpo pode sofrer pela falta de sangue. A vida deles fica muito difícil, com dor crônica, múltiplas internações, infecções, eles podem ter derrame, AVC", diz Adriana.
Os pais de Nicolly, Tiago e Gabriela, nunca tinham ouvido falar sobre doença e não tinham ideia de que poderiam transmiti-la.
"Para ter a doença, a gente precisa de dois genes mutados, e cada um só tinha um gene mutado. Eles eram portadores da mutação, mas não tinham a doença. Nesses casos, 25% das crianças nascidas vão ter a doença completa, a doença da anemia falciforme, que era o caso da filha deles", explica o médico Vinícius Medina Lopes.
O sofrimento de Nicolly começou quando ela ainda era um bebê de colo, em um aflitivo vaivém de casa para o hospital. A vida dos pais dela ficou conturbada, e eles se separaram. Até o dia em que Gabriela viu a notícia de um transplante de medula de um irmão para outro. E o caso era de anemia falciforme. Pela notícia, o sangue da medula de um irmão poderia salvar o outro se o doador fosse compatível.
"Ele falou: "Vamos fazer?" Eu não pensei duas vezes", conta Gabriela.
Ana Liz nasceu no dia 8 de junho de 2021. Havia uma equipe só para retirar o sangue do cordão umbilical dela. Nicolly sempre soube: a irmãzinha que "chegou chegando" viria embalada no amor que iria salvá-la.
Ana Liz tinha poucos dias de vida, em julho de 2021, quando o Fantástico entrevistou a família. Oito meses depois, Gabriela e Nicolly desembarcaram em São Paulo. Sem dinheiro para bancar o transplante, a família recorreu a rifas, vaquinhas e campanhas organizadas por amigos de Bom Jesus, no Piauí, cidade natal de Gabriela.
O primeiro dia de internação foi em 2 de março de 2022. Quando chegou a hora do transplante, a equipe viu que o sangue do cordão de Ana Liz não era em quantidade suficiente. E o bebê que tinha ficado em Brasília teve que ir com o pai para São Paulo. A super Ana Liz entraria em ação novamente doando um pouco de sangue da bacia. No dia 7 de abril, a coleta em Ana Liz foi feita, e no dia 8, o transplante em Nicolly.
"Foi dia 23 de abril, quando a medula dela 'pegou'", lembra Gabriela.
"Devagarinho, as células da Ana Liz, do doador, vão para dentro da medula da Nicolly, começam a se proliferar e a produzir sangue. Quando tem mais de 500 células de defesa, que se chama neutrófilo, a gente fala que teve "pega" da medula óssea", conta a médica.
Nicolly teve alta no dia 3 de maio e até comemorou o aniversário de 8 anos no dia seguinte.
"A Ana Liz chegou no mundo não só para curar a Nicolly, foi para preencher a nossa família, para trazer alegria", afirma Gabriela.