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Quadrilha investigada por comprar até helicóptero com dinheiro de jogo

Dando início ao que parece ser apenas a ponta de um iceberg, o Ministério Público do Estado investiga um esquema milionário que envolve a compra de pelo menos dois iates, um helicóptero, apartamentos, inclusive coberturas, carros de luxo, sítios, abertura de empresas e joias, com dinheiro do jogo do bicho.

Por Regional ES em 29/06/2022 às 15:07:42

Foto: Divulgação

No alvo, estão mais de 20 investigados, entre os quais quatro bicheiros, empresários, um delegado, dois policiais civis, um oficial de Justiça, além de laranjas, que são uma espécie de testa de ferro da organização criminosa usada com a finalidade de comprar bens e constituir empresas de fachada com o dinheiro da jogatina. Os indícios, até agora, apontam que os agentes públicos, a exemplo dos policiais e do delegado, eram um braço da organização, atuando como uma rede de proteção.

CRICARE

Em troca de propina, cujos valores que estariam sendo pagos ainda serão alvo de apuração, eles teriam a missão de monitorar todos os caminhos que pudessem levar à polícia e o Ministério Público a descoberta do esquema de lavagem de dinheiro.

Monitorando a quadrilha desde setembro do ano passado, após o recebimento de uma notícia anônima, ontem o Ministério Público, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com o apoio da Polícia Militar e da Polícia Federal, deflagrou uma operação, batizada de Frisson.

A operação teve o objetivo de desarticular e colher provas relativas à atuação dos suspeitos para lavagem de valores provenientes, direta e indiretamente, da exploração do jogo do bicho em Vila Velha, predominantemente, e em outros municípios da Grande Vitória.

Até o momento, não houve prisões. Foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão na casa dos suspeitos.

As investigações apontam que um dos iates teria sido comprado por R$ 3 milhões, valor que pode estar subavaliado, ou seja, ser inferior a quantia paga no ato da compra.

Carros de luxo, pelo menos quatro, entre os quais, um Porsche, avaliado em R$ 1 milhão, teriam sido comprados com o dinheiro do jogo de bicho. Outro, um Volvo, teria sido adquirido com dinheiro em espécie: cerca de R$ 400 mil.

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Próximo passo é perícia em computadores e celulares

Celulares, computadores, dinheiro e armas estão entre os materiais que foram apreendidos ontem. Parte do material será periciado e norteará os próximos rumos da investigação.

Ao todo, quatro membros do Ministério Público do Estado coordenam os trabalhos, auxiliados por 29 agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), policiais militares e policiais federais.

A partir de agora, eles vão analisar documentos, computadores, dados e depoimentos de investigados e testemunhas que serão colhidos nas próximas semanas.

A operação foi batizada de Frisson, nome de um iate que foi alvo da investigação. Outra embarcação teria sido comprada com dinheiro do jogo do bicho. Uma delas está em Angra dos Reis (RJ) ou em Guarapari e deve ser apresentada às autoridades em cinco dias.

Apesar de a denúncia ter sido feita em setembro do ano passado, as investigações revelam que a organização criminosa já estaria "lavando" o dinheiro desde 2019.

Inicialmente, a operação consistiu no cumprimento de 25 mandados de busca e apreensão, sendo 21 em Vila Velha, três em Vitória e um em Cariacica, emitidos pelo juízo da 6ª Vara Criminal de Vila Velha.

Residências e empresas dos investigados foram alvo das ações. Ninguém foi preso até o momento. As investigações correm em sigilo.

Foram apreendidos valores em euro, dólar e reais, que ainda serão contabilizados.

Os crimes, caso os acusados sejam denunciados, presos e condenados pela Justiça, preveem pena de 3 a 8 anos (organização criminosa), de 3 a 10 anos (lavagem de dinheiro), de 2 a 12 anos (corrupção passiva) e de 2 a 12 anos (corrupção ativa).

Sobre a suposta participação de policiais no esquema, a Polícia Civil informou que não foi notificada oficialmente sobre o fato e só se manifestará após receber as informações da investigação do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES).

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Como era o esquema

Apostas

O jogo do bicho, que é uma contravenção penal cuja exploração não é liberada no Brasil, conta com banquinhas de apostas, que são administradas por pessoas de pouca renda, normalmente laranjas dos bicheiros.

Eles recebem o pagamento das apostas em dinheiro em espécie, pagamentos por maquininhas e até transferências via Pix.

Por dia, o dinheiro arrecadado é recolhido, na maioria das vezes por motoqueiros, diversas vezes, ou sacado por banqueiros.

Mas, desta vez, o alvo da investigação do Ministério Público do Estado não foi o jogo do bicho, mas sim a atuação de uma organização criminosa constituída para lavagem de dinheiro com o dinheiro da jogatina.

Cabeças do esquema

As investigações revelam que pelo menos quatro bicheiros seriam os cabeças do esquema. Alguns já são réus em outras investigações, mas em casos de infração de menor potencial ofensivo, é lavrado um Termo Circunstanciado e o acusado fica à disposição da Justiça.

Lavagem de dinheiro

O dinheiro da jogatina tem uma destinação principal: é usado para compra de bens, como imóveis, carros de luxo, iates, aeronaves, joias, sítios, fazendas, abertura de empresas, especialmente as de fachada.

Só que, para "lavar o dinheiro", os bicheiros contam com a ajuda de terceiros, os laranjas, já que não querem deixar rastro.

Empresas

Boa parte das empresas em nome de laranjas investigadas estão registradas, entre as quais de comércio de veículos e eventos esportivos. Outras são de fachada, ou seja, só tem razão social, mas não existem.

Agentes públicos

As investigações até agora apontam que os bicheiros pagavam propina para agentes públicos, entre eles dois policiais civis, um delegado e um oficial de Justiça.

A suspeita é de que eles atuavam como uma espécie de rede de proteção da organização, passando informações privilegiadas para que o esquema não fosse descoberto. Outros servidores são investigados.

Os números

> 25 mandados de busca e apreensão foram cumpridos ontem

> 4 bicheiros são apontados como os cabeças do esquema

> 1 milhão foi o valor pago por um carro de luxo

Fonte: Tribuna Online

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