"O autismo não tem cara" e esta é uma das motivações para que sejam destinadas vagas de estacionamento exclusivas
"O autismo não tem cara" e esta é uma das motivações para que sejam destinadas vagas de estacionamento exclusivas às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Sob esta perspectiva, os clientes do Shopping Vitória, na Enseada do Suá, passam a contar, nesta quinta-feira (29), com três vagas de estacionamento para este público.
São duas vagas no subsolo (no acesso do cinema e no Acesso 1, próximo à Sapataria do Futuro) e uma externa, na entrada principal. Para maior conforto e segurança, todas estão estrategicamente localizadas perto das entradas do mall. As vagas são identificadas com o símbolo mundial do TEA, a fita de quebra-cabeça multicolorido.
A iniciativa é resultado do trabalho de responsabilidade social desenvolvido pelo Instituto Américo Buaiz (IAB) em parceria com o Shopping Vitória. O objetivo é promover a inclusão e a acessibilidade. Segundo Paula Martins, gerente executiva do IAB, este passo representa uma grande conquista para a comunidade autista e para a sociedade em geral, que caminha para ser mais consciente das diferenças que nos tornam plurais.
É previsto por lei que os autistas também têm o direito de utilizar as vagas destinadas às pessoas com deficiência (PCD), já existentes no shopping. No entanto, como já dito, o TEA não é uma deficiência identificável visualmente, e algumas famílias acabam passando por situações de constrangimento ao tentar estacionar.
"O autismo não tem cara, ou seja, não é uma deficiência identificável visualmente, o que faz com que, muitas vezes, esse público viva sob o manto da invisibilidade. É isso que não queremos mais. Nosso trabalho é também divulgar, promover e dar atenção a esta causa, que é uma realidade crescente", completou Paula.
Mãe de filho autista, a presidente da Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo (Amaes), Pollyana Paraguassú, reafirma a importância das vagas exclusivas.
"Eu mesma uso vaga para deficientes quando estou com meu filho e já fui questionada: 'esqueceu a cadeira de rodas?', então as famílias passam constrangimento. Essa vaga pode contribuir para a transformação social", destacou.
"É claro que é preciso usar o cartão de estacionamento para vaga preferencial. Inclusive, o direito à vaga é garantido mesmo quando a pessoa com autismo não é a condutora do veículo. Isso mostra um grande avanço. O acesso a essas vagas prioritárias deve também atender a este público, porque facilita o acesso a espaços e serviços que as famílias buscam para o próprio autista", destacou.
Baseado na questão das vagas de estacionamento próprias aos autistas, o psicólogo clínico que atua na Associação dos Amigos dos Autistas do Espírito Santo (Amaes), Helder Sousa, complementa afirmando que e autismo tem uma vida jurídica de menos de 10 anos no Brasil.
Segundo o especialista, o tratamento legislativo veio pela Lei Berenice Piana, de 2012, que institui a política nacional de proteção aos direitos às pessoas com TEA e reconhece o autismo como uma deficiência para todos os efeitos legais. "Ela prevê diversas possibilidades voltadas à educação, saúde e no tocante às políticas públicas", disse.
E nesse panorama, é preciso continuar evoluindo em sentidos práticos. Para ele, a destinação das vagas de estacionamento exclusivas é de grande importância.
"Sabemos que já há vagas para idosos e pessoas com deficiências, geralmente associados a pessoas com baixa mobilidade, mas é importante que também tenhamos vagas que remetam às pessoas com "desenvolvimento neurotípico", "que não têm cara", o que faz com que algumas pessoas não entendam", acrescentou Helder.
Sousa disse ainda que o símbolo usado para caracterizar as vagas é também uma forma de linguagem, que ajuda as pessoas a criarem associação. "Elas vão entendendo melhor o significado do que é o autismo. Chama a atenção e melhora a acessibilidade, trazendo mais segurança, mais comodidade, além de acesso a serviços e espaços que essas pessoas carecem", explicou.
Em se tratando do TEA, o psicólogo reitera que muitas vezes há dificuldade em relação à comunicação social com o autista, já que muitas vezes essas pessoas não entendem que não podem parar em qualquer lugar, e para buscar vagas às vezes demora e isso pode desencadear situações desagradáveis a estas pessoas. "Ter vagas próprias facilita", disse.