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Ataques a escolas: juiz dá detalhes do depoimento de menor que matou 4 pessoas

O crime aconteceu em novembro do ano passado e deixou, além de feridos, uma aluna adolescente e três professoras mortas

Por Regional ES

26/01/2023 às 08:35:48 - Atualizado há
Foto: Reprodução

O dia 25 de novembro de 2022 dificilmente sairá da memória dos moradores de Coqueiral de Aracruz, no município que fica no Norte do Espírito Santo. Aquela sexta-feira foi marcada pelo terror e a morte de inocentes em duas escolas.

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CRICARE

Dois meses após os ataques que mataram uma aluna e três professoras, o juiz que julgou o menor responsável pelas mortes fala pela primeira vez e dá detalhes do depoimento do rapaz, um garoto de 16 anos.

Juiz da Vara da Infância e Juventude que atua na cidade de Aracruz, Felipe Leitão Gomes conta que preferiu estar pessoalmente na cena do crime, porque assim puderam agilizar o processo mais importante até aquele momento: identificar e localizar o atirador.

"Nos deparamos com a cena trágica, as vítimas ainda nos locais, muitas pessoas em volta e polícia atuando. Era importante que estivéssemos presentes, exatamente para adotar as medidas urgentes que o caso exigia".

A casa do atirador

"Compareceu ao local o superintendente da região Norte da Polícia Civil, falando que eles já tinham um alvo identificado, um suspeito com uma informação muito concreta e que eles precisavam de um mandado de busca e apreensão para aquela residência. Como não havia tempo para essa diligência, eu e o juiz criminal fomos até a residência que seria alvo da ocorrência. Lá, foi informado que a polícia tinha uma suspeita forte com relação a um adolescente, que era filho de um policial, e que eles tinham outra residência que ficava na orla".
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A prisão

"No primeiro momento, a Polícia Militar informou que ele estava no local e estava negando. Logo depois, o policial encarregado informou que tinha confessado, na frente dos pais, e eles estavam se preparando para deslocar até lá. Eu e o juiz criminal permanecemos no local até a chegada do adolescente. Eu avisei ao delegado que eles eram responsáveis, a partir daquele momento, pela integridade física do adolescente. Foi um caso que causou uma comoção muito grande e a população poderia querer se revoltar."

A confissão

Foto: TV Vitória
Felipe Leitão Gomes, Juiz da Vara da Infância e da Juventude
"Ele confessou a prática de todos os atos, a dinâmica. Desde o primeiro momento em que ele foi ouvido, ele confessou. A única coisa que ele não confessava era a real motivação. Ele dizia que era fruto de um bullying que ele tinha sofrido na escola e que eu até acho, que apesar de não ter sido a motivação, foi o que desencadeou a mudança comportamental"
"Ele apresentou sinais e estava fazendo acompanhamento. Ele fazia terapia, fazia uso de medicamentos em função disso. Os pais tinham esse cuidado. O pai, inclusive, tinha buscado especialização. Obviamente, por questões éticas ele não pode acompanhar o filho, mas ele buscou especializações na área para entender a situação do filho"

Influência neonazista

"Foi encontrada uma suástica nazista, que é um símbolo muito difundido dentro de pessoas com ideologias neonazistas. Ele negou, nas três vezes que foi ouvido, que a motivação fosse qualquer coisa relacionada a grupos neonazistas ou extremistas dessa natureza. Mas após a primeira audiência, a Polícia Civil conseguiu, com o apoio do Gaeco e do setor de inteligência, degravar umas informações nos equipamentos que foram apreendidos e lá ficou constatado que sim, a motivação era a ideologia neonazista, ódio contra minorias, negros, homossexuais, judeus, maçons".


Entre os ídolos do adolescente, estão o nazista Adolph Hittler; Erick Harris e Dylan Klebold, responsáveis pelo ataque em Columbine, escola dos Estados Unidos que sofreu ataque em 1999; e Guilherme Taucci e Luiz Henrique de Castro, assassinos do massacre de Suzano em 2019.

Segundo investigações, o adolescente de Aracruz pretendia, assim como os assassinos que admirava, tirar a vida logo em seguida, mas não concluiu essa parte do plano.

"Foi identificado que havia uma ideia dele de tentar contra a própria vida. Eu não sei se ele não teve coragem ou se ele queria ser morto em confronto. Mas havia, sim, o desejo de ceifar a própria vida e reforçou ainda mais a nossa preocupação quanto a integridade dele na unidade em que ele está internado".

Medidas socioeducativas



A lei brasileira que protege a criança e o adolescente é questionada em muitas áreas. Mesmo responsável pela morte de quatro pessoas, o menor não pode ser considerado criminoso e a pena máxima que pode pegar são três anos detido em medida socioeducativa.

"Menor não pratica crime, pratica ato infracional, que é uma conduta análoga a um crime. É o mesmo tipo, mas não é considerada um crime. Então o adolescente também não cumpre pena. Ele cumpre o que a gente chama de medida socioeducativa. Ela tem um objetivo pedagógico, sim, que tem um viés punitivo. Mas o objetivo é reeducar o adolescente para que ele, quando alcançar a maioridade e deixar a unidade, possa conviver bem em sociedade. O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma lei muito boa, apesar de várias críticas que recebe, estabelece prazos. Para casos como este, o prazo de internação é de três anos. Para mudar isso não cabe ao poder Judiciário, às polícias e nem advogados. Cabe ao poder Legislativo, no Congresso Nacional, fazer as alterações.

Além disso, a cada seis meses ele vai passar por uma avaliação de toda a equipe e vai ser reavaliado por um juiz, que vai definir se ele irá cumprir os três anos ou se sairá antes.

A defesa do adolescente não recorreu à decisão da internação e não alegou problemas psiquiátricos do cliente.

"Indiscutivelmente há, sim, um problema. Não foi identificada nenhuma disfunção que comprometesse a capacidade dele de saber o que estava fazendo"

O futuro

"Ele está sendo avaliado psiquiatricamente, por um pedido da defesa e foi colocado na minha sentença, até para saber como ele vai sair da unidade"

A cidade pós-massacre

Foto: Reprodução TV Vitória
Movimentação na escola após o crime que chocou toda a comunidade
"É o processo mais difícil, dada a gravidade e a repercussão que isso gerou e vai gerar na comunidade durante muitos anos, seja na comunidade acadêmica ou na sociedade como um todo. O pai que perdeu uma filha, professores que perderam colegas, membros da comunidade pequena que perderam aquelas pessoas que convivia. O que vai dar mais trabalho a longo prazo é esse acompanhamento da sociedade e tentar curar essa ferida para trazer para um ambiente de normalidade. Isso vai custar muito tempo e muito trabalho"

Na mesma situação estão tantos outros responsáveis que deixam a cargo da internet e das influências sociais a direção da vida dos filhos.

"O recado que eu tenho para os pais é prestem atenção no que seus filhos fazem. Conversem com eles muito. Prestem atenção em escola e rede social, pois estes fatos acontecem quando você menos espera".

Com informações da repórter Nathália Munhão, da TV Vitória/Record TV

Fonte: Folha Vitória
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