Embalado pela boa fase do Botafogo – líder isolado do Brasileirão –, o governador Renato Casagrande (PSB) resolveu seguir o mantra utilizado no futebol e na política e não vai mexer no time que vem dando bons resultados. No caso, trata-se do time da base aliada: a liderança do governo na Assembleia vai continuar com o deputado Dary Pagung (PSB).
"Vai continuar o Dary Pagung, ele está aprovando todas as matérias", disse o governador à coluna ao ser questionado sobre a liderança do governo no Legislativo nesse segundo semestre. E o botafoguense, realmente, não tem do que se queixar.
Todas as matérias encaminhadas pelo governo do Estado no primeiro semestre foram colocadas em pauta, votadas e aprovadas. Num balanço feito por Dary, foram 30 projetos de lei e 20 projetos de leis complementares do governo aprovados na Casa em seis meses.
Alguns projetos tinham potencial de gerar polêmica – como os que criavam cargos e aumentavam a máquina pública. Mas a maioria foi aprovada em regime de urgência e com certa facilidade. Dary terminou o primeiro semestre rindo à toa.
"Acredito que nossa liderança é marcada por uma ampla agenda legislativa com o objetivo de promover avanços significativos em diversas áreas e beneficiar os cidadãos do Espírito Santo", disse o deputado ao ser questionado sobre o balanço da sua liderança nos primeiros seis meses.
Ele chegou a citar alguns dos principais projetos do governo aprovados: "Entre os projetos apresentados, todos foram importantes, mas temos que dar destaque para o PL 558/2023, que autorizou a abertura de crédito especial para as vítimas do atentado de Aracruz; o PL 483/2023, que alterou o auxílio-financeiro temporário a famílias atingidas por desastres decorrentes das chuvas; além do PL 357/2023, referente à Lei de Diretrizes Orçamentárias e o PL 75/2023, que criou o Bolsa-Estudante".
Dary confirmou que foi escalado para mais um tempo como líder e se colocou à disposição. "Estou à disposição do governador Renato Casagrande para defender os projetos essenciais para o Estado pelo tempo que for necessário", afirmou.
Mas, quem vê o resultado ao final desse primeiro tempo de bola rolando, nem imagina que no início do jogo, ou melhor, da legislatura, Dary passou sufoco e por pouco não se criou "um clima terrível". E olha que nem foi com o time adversário.
Durante a votação do projeto do governo que criou o Bolsa-Estudante para uma parte dos alunos do ensino médio da rede estadual, o deputado Fabrício Gandini (Cidadania), aliado do Palácio Anchieta, protocolou uma emenda dobrando o valor do benefício, que pulou de R$ 400 para R$ 800.
A postura de Gandini, que recebeu o apoio e o voto da oposição, acabou impondo uma das únicas derrotas do governo na Ales no 1º semestre. O projeto foi aprovado com a emenda e o governo acabou sancionando o texto com o novo valor.
Na época, Dary disse não ter visto o episódio como uma derrota para o governo, mas admitiu que a base estava desorganizada. Inclusive, a votação ocorreu no exato momento em que Dary acertava, no gabinete de Casagrande, os detalhes para ficar à frente da liderança do governo.
Na época, ele e Tyago Hoffmann eram cotados para o posto e, ao contrário de agora, Dary não estava muito animado para continuar na missão de liderar o time. Ele precisou ser convencido pelo governador. Tyago ficou na vice-liderança.
A previsão na época, com a eleição de uma oposição mais estridente que a do mandato anterior, era de que Dary teria pela frente muita dor de cabeça e chute na canela. O que acabou não se confirmando.
"É um desafio, em tempos de polarização política, manter a união em torno de um objetivo comum, seja na aprovação de uma lei ou na alteração de uma política vigente. Mas acredito que meus pares sabem o momento que isso deve ser colocado de lado em prol de uma vida melhor para os capixabas", amenizou.
De perfil conciliador e postura pacífica, Dary é conhecido por ter bom trânsito e bom trato com os colegas, sendo respeitado até pelos mais ferrenhos opositores do governo. Na defesa do governo, consegue dialogar e até driblar algumas jogadas adversárias, sem nunca subir o tom da voz.
Dary já está na função há três anos, tendo assumido a liderança pela primeira vez em julho de 2020, em meio à pandemia de Covid-19. Por conta do Regimento Interno da Ales – artigo 13, parágrafos 1º e 2º –, para que a função de liderança na Ales seja validada, o governador precisa encaminhar a indicação à Casa a cada seis meses.
O deputado não colocou um prazo para pendurar as chuteiras à frente da liderança. Mas quem acompanha os bastidores da Assembleia sabe que o desejo de Dary é ser, um dia, presidente da Ales e/ou conselheiro do Tribunal de Contas.
Ele já tentou se viabilizar para os dois postos. Inclusive no início deste ano ensaiou uma candidatura à presidência da Assembleia, mas bateu na trave. Acabou tirando seu time de campo em nome de um consenso na base, uma vez que o Palácio Anchieta deu a benção ao atual presidente, deputado Marcelo Santos (Podemos).
A próxima eleição para a Mesa Diretora é em 2025, mas uma vaga no Tribunal de Contas vai se abrir daqui a cinco meses, com a aposentadoria compulsória do conselheiro Sérgio Borges. A vaga é da Assembleia mas, nos bastidores, a escolha acaba sendo mesmo do governo.
A atuação e a lealdade de Dary na defesa do governador o cacifam para disputar a vaga no TCES? Sim. É o saldo de gols que Dary tem a seu favor. Mas, há outros players também em campo e tudo indica que essa próxima partida será acirradíssima.