PolĂ­tica Shows

De Alexandre Pires a Leo Santana, altos cachês pagos por shows no interior levam prefeituras aos tribunais

Pagamentos a artistas feitos por municĂ­pios são alvo de denĂșncia de adversĂĄrios e do MinistĂ©rio PĂșblico, que veem mau uso dos recursos; apresentações chegaram a ser suspensas

Por Regional ES

10/03/2024 às 09:02:08 - Atualizado hĂĄ
Gusttavo Lima, Alexandre Pires e Léo Santana tiveram shows questionados - Foto: Montagem de fotos/Divulgação

Prefeituras do interior dispostas a pagar altos cachĂȘs a artistas para fazerem shows em suas cidades tĂȘm sido alvo de denĂșncias de mau uso de recursos pĂșblicos que terminam nos tribunais. Somente este ano, trĂȘs apresentações foram alvo de batalhas judiciais, deixando em compasso de espera cantores como Alexandre Pires, Leo Santana e Gusttavo Lima, que não sabiam se poderiam subir ao palco até momentos antes das exibições, orçadas, nesses casos, entre R$ 250 mil e R$ 1,3 milhão.

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Em Embu das Artes (SP), o show de Leo Santana, contratado para celebrar o aniversĂĄrio da cidade, em 18 de fevereiro, ficou suspenso por dois dias e só foi liberado horas antes de começar após recurso da prefeitura. O autor do pedido do cancelamento, o então vereador Abidan Henrique (PSB), foi cassado 12 dias após conseguir na Justiça uma liminar para embargar a apresentação. A perda de mandato, aprovada pela Câmara, ocorreu devido a um outro episódio envolvendo contratação de artistas em 2023. Durante uma sessão, ele chamou de "ratos" os vereadores que não quiseram debater o problema.

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— Foi uma forma de vingança. A perseguição aumentou após a denĂșncia do show do Leo Santana — diz o vereador, que denunciou à Justiça falta de transparĂȘncia e irregularidade na forma de pagamento para o artista, feito antes mesmo de o show acontecer.

CRICARE

Procurada, a prefeitura não comentou.

Em TrĂȘs Rios (RJ), a briga envolve a prefeitura e o Ministério PĂșblico, que apura se houve superfaturamento nos cachĂȘs pagos a artistas que cantaram no carnaval, entre eles ClĂĄudia Leite, Alexandre Pires e Belo. Eles teriam recebido, respectivamente, R$ 500 mil, R$ 480 mil e R$ 250 mil.

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"Pela impossibilidade de comprovação de tal denĂșncia antes do inĂ­cio do carnaval, não foi possĂ­vel nenhuma medida para impedir a realização do evento, mas serão apuradas todas as despesas, sem exceções, ainda que a Câmara de Vereadores tenha aprovado tudo por unanimidade, como efetivamente o fez", diz trecho da nota enviada pelo MPRJ. Questionada, a prefeitura não comentou a investigação.

JĂĄ na Bahia, o MP estadual conseguiu na Justiça uma decisão favorĂĄvel ao pedido de suspensão do show do cantor Gusttavo Lima em Campo Alegre de Lourdes, marcado para 9 de fevereiro, data dos festejos de Nossa Senhora de Lourdes. A prefeitura desembolsaria R$ 1,3 milhão apenas para pagar o cantor.


A promotora Thays Rabelo, titular da ação, afirma que chamou atenção a contratação do artista ter sido feita no perĂ­odo em que o municĂ­pio decretou emergĂȘncia por conta da seca na região. Ela ainda destaca a importância do trabalho preventivo de órgãos de fiscalização, antes que o pagamento pelo evento aconteça:

— No caso de Campo Alegre de Lourdes, identificamos uma ausĂȘncia de polĂ­ticas pĂșbicas essenciais nos mais variados setores e fomos taxativos em pedir a devolução integral dos valores do cachĂȘ para os cofres pĂșblicos.

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Em 2023, o promotor André Luengo também conseguiu a suspensão dos shows que aconteceriam num rodeio na cidade de Euclides da Cunha Paulista, no interior paulista. Ele argumentou que o valor dos cachĂȘs das duplas sertanejas Fernando e Sorocaba, Jads e Jadson e Antony e Gabriel — mais de R$ 500 mil — era igual ao orçamento da Secretaria de Cultura da cidade.

— O intuito não é deixar a população sem entretenimento. Minha maior preocupação foi ver a situação da cidade, que tinha um déficit orçamentĂĄrio e onde os direitos bĂĄsicos da população, como saĂșde e educação, não eram respeitados. Os gastos de dinheiro pĂșblico precisam ser razoĂĄveis — afirma Luengo.


Desigualdade de forças

O publicitĂĄrio especialista em marketing polĂ­tico Renato Pereira avalia que neste ano de eleição municipal esse tipo de evento tende a ser mais comum porque ajuda a popularizar os gestores — que discursam e marcam presença nos palcos —, além driblar a lei eleitoral, que proĂ­be a realização de apresentações em eventos de campanha:

— Eles promovem o atual gestor debaixo de uma capa de estĂ­mulo ao comércio e turismo da cidade. Fora que aumentam a desigualdade de forças entre quem tem o controle da mĂĄquina e os demais opositores, jĂĄ que se os outros candidatos realizassem um evento desse tipo, seriam punidos pela lei eleitoral.


Fonte: O Globo
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