O Painel de encerramento do evento discutiu os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia na fruticultura e apontou outros fatores que influenciam no mercado Os impactos gerados pela guerra entre Rússia e Ucrânia no preço dos combustíveis, fertilizantes e outros insumos têm prejudicado os produtores de frutas que atuam noEspírito Santoe em outros estados brasileiros. O assunto foi debatido na última quarta-feira (30), durante o2º Encontro Agro Business, realizado em Linhares.
Durante o evento,promovido pela Rede Vitória, em parceria com a Apex Partners, o CEO da UGBP, Rodrigo Martins, que atua na exportação de mamão, disse que a guerra no Leste Europeu ainda não impactou no volume de vendas de frutas para o exterior. Entretanto, tem gerado um custo elevado, especialmente na logística.
"Nós já vínhamos da pandemia com altos preços de fretes aéreos. Para se ter uma ideia, fretes de São Paulo a Miami, em que nós pagávamos, em média, 60 centavos de dólar, hoje nós pagamos 1 dólar e 60 o quilo. Isso implicou muito também na demanda na Europa e inflacionou o preço da fruta na banca", destacou.
"Nós fomos obrigados a subir o preço em moeda estrangeira, principalmente por causa da alta do petróleo. Nossa logística é baseada não só em frete aéreo, mas no rodoviário. E tudo que a gente compra também depende do transporte rodoviário",completou.
Fernanda Permanhani disse que os efeitos da guerra têm gerado incerteza entre os produtores agrícolas
A produtora rural Fernanda Permanhani ressaltou as incertezas causadas pelo conflito entre russos e ucranianos para a fruticultura capixaba.Ela cita, como fatores geradores de instabilidade, o aumento do preço dos fertilizantes provenientes da Rússia e o reajuste no valor dos combustíveis.
"É difícil você fazer uma projeção com poucos dados seguros. Diante do cenário atual, com tantas variáveis que geram uma insegurança maior, o produtor fica receoso se vai comprar, se vai estocar, o que fazer. Tem muita gente com essa aflição", apontou.
Segundo ela, essa indefinição dos produtores de frutas acaba reduzindo a produção, o que gera uma espécie de efeito "bola de neve".
"Se a gente não continua a produção ou não aumenta, isso pode gerar depois uma escassez desses produtos, que vai aumentar o preço para a população, vai aumentar a inflação, e é aquela bola de neve que vai afetar todo mundo".
O secretário municipal de Agricultura de Linhares, Franco Fiorot, sintetizou os impactos da guerra no bolso do consumidor final.
"Quando se aumenta o preço do fertilizante e do combustível, se impacta direto no custo de produção, e aí vai ter reajuste de preço e tende-se a ter um menor consumo. A gente já está vendo, nos supermercados, os preços dos alimentos. Dentre vários fatores, esse está impactando e, dependendo do decorrer dessa guerra, pode continuar impactando ainda mais".
Franco Fiorot lembrou que, além do conflito no Leste Europeu, o Brasil vive "outras guerras internas", que acabam impactando no desenvolvimento da fruticultura e na comercialização dos produtos.
"Temos outras guerras internas aqui há bastante tempo. Temos guerras de logística, com as nossas rodovias. O nosso mamão sai todo pelas rodovias para chegar aos aeroportos de Rio e São Paulo, para exportação. Nossas rodovias estão a mesma coisa nos últimos 20 anos. Os aeroportos também. Temos que melhorar a infraestrutura para que nossa fruticultura possa deslanchar", afirmou.
"Nós temos também a guerra da questão hídrica. Vivemos uma seca em 14, 15 e 16. Será que nós nos preparamos hoje, em 2022, para enfrentar uma outra seca dessa, e que vai impactar diretamente na produção de fruta e no mercado?", questionou.
Para Rodrigo Martins, fruticultura do Brasil tem potencial para crescer ainda mais
Rodrigo Martins destacou que os fatores levantados por Fiorot já impactam negativamente na exportação de frutas há bastante tempo.
Ele lembra que, em 2014,foram vendidas cerca de 33 mil toneladas de mamão brasileiro para o exterior. Já no ano passado, foram cerca de 50 mil toneladas exportadas, um aumento de cerca de 50%.
Segundo o CEO da UGBP, não fossem fatores externos e problemas na infraestrutura brasileira, esse número poderia ser bem maior.
"Muita gente acha que é muito, mas é pouco. Poderia ser muito maior se não tivessem tantos atropelos. A 'guerra' que nós tivemos foi a pandemia e agora essa guerra também, dentre outras coisas que aconteceram no decorrer desses anos". "A demanda da nossa fruticultura lá fora é crescente. Precisamos fazer o nosso dever de casa, que seriam mais parcerias público privadas, melhorar a infraestrutura. O Brasil está em ascensão produtiva e, como todos falam, é o celeiro do mundo. O Brasil é um país de fruticultura tropical e, buscando uma estabilidade econômica, vai crescer cada vez mais. Nossa fruta é muito bem aceita no exterior",completou.Fernanda Permanhani também destacou a importância da parceria entre os setores público e privado, no sentido de também desburocratizar o mercado.
"A gente tem milhares de desafios internos. Deveres de casa que não só os produtores têm que fazer, mas também as lideranças dos governos federal, estadual e os municipais, e a gente trabalhar de forma coletiva. Modernizar, profissionalizar cada vez mais, desburocratizar. Já deveríamos ter aprovado as reformas para melhorar o ambiente de negócios".
O painel que encerrou a segunda edição do EncontroAgro Business também destacou a importância da fruticultura na economia capixaba. Para Franco Fiorot, mesmo o café sendo o principal produto agrícola do Espírito Santo, a produção de frutas tem um destaque relevante para a economia e a sociedade.
"A nossa 'veia' no Espírito Santo é o café. Mas a fruticultura desempenha um papel essencial, do ponto de vista econômico-social no Espírito Santo. A gente precisa analisar esses indicadores econômicos e sociais, e trabalhar para melhorar, pelo potencial que ela tem de geração de renda e de emprego, de verticalizar essa produção e de agregar valor às nossas terras", ressaltou.
Secretário de Agricultura de Linhares, Franco Fiorot, ressaltou a importância da fruticultura na economia
O secretário de Agricultura de Linhares frisou que a diversificação de produtos, especialmente na fruticultura e nos hortigranjeiros, tem sido uma ferramenta importante para a economia dos municípios capixabas.
Ele destaca que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram que 25% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola do Espírito Santo está concentrado em quatro municípios: Santa Maria de Jetibá, Linhares, São Mateus e Domingos Martins.
"O que esses municípios têm em comum? A diversificação pelos hortigranjeiros ?- Santa Maria principalmente ?- e pela fruticultura", pontuou Fiorot."Se a gente analisa o mapa do Espírito Santo e os municípios capixabas onde a participação da agropecuária é maior na economia local, a gente observa que os municípios que têm uma diversificação maior, pela fruticultura ou pelos hortigranjeiros, têm uma participação da agropecuária maior na economia local. Isso é importante do ponto de vista de arrecadação e de investimentos",concluiu.
Para Fernanda Permanhani, a diversificação de culturas traz mais segurança ao produtor agrícola.
"Meu pai sempre falou sobre essa questão de diversificar, de a gente não ficar preso a uma cultura só. Todas as culturas sobem e descem e dependem de mercado, principalmente as commodities. Então a gente precisa ter essa segurança. Aqui no norte principalmente quase todo mundo é café com alguma fruta. Isso é interessante e abastece nosso mercado e vai para fora".
Fonte: (Redação Folha Vitória)