Aeronaves operavam voos para empresas russas e empresários do país e tiveram seus contratos cancelados; aviões não deixaram mais as fronteiras aéreas para evitar repatriação. Foto de arquivo de abril de 2020 mostra um avião da companhia estatal russa Aeroflot atrás de uma cerca no aeroporto Sheremetyevo, em Moscou
Ao menos 360 aeronaves de origem estrangeira foram registradas na Rússia desde o começo de março deste ano, apontou um balanço da consultoria especializada IBA.
A empresa, com sede no Reino Unido, estima também que a maior parte dos registros ficou concentrada entre 13 e 18 de março, quando o Ocidente apertou as sanções contra a Rússia.
O movimento veio em resposta aos bloqueios, e as aeronaves "tomadas" pela Rússia operavam voos para empresas russas e empresários do país que tiveram seus contratos cancelados.
Os aviões, a maior parte deles registradas originalmente nas Bermudas, não deixaram mais as fronteiras aéreas da Rússia para evitar riscos de repatriação, apontou a consultoria.
Sanções contra a Rússia
Um Airbus A320-200 da companhia estatal russa Aeroflot decola no Aeroporto Internacional de Sheremetyevo, nos arredores de Moscou, na Rússia, em junho de 2018
Maxim Shemetov/Reuters/Arquivo
Após o início da invasão russa na Ucrânia, uma série de medidas foi imposta contra o país governado por Vladimir Putin, o que resultou no fim de contratos de diversas operadoras aéreas.
Por conta das sanções, empresas especializadas no aluguel de aeronaves encerraram os negócios com empresários russos, mas não conseguiram reaver o equipamento.
A prática adotada pela Rússia, no entanto, vai contra a legislação internacional uma vez que é ilegal registrar uma aeronave em um país sem que seu dono anterior tenha permitido.
"É um dilema para as operadoras aéreas russas", disse em nota o analista Suleiman Atif, da IBA. "Eles deixam seus aviões parados, ou registram para voos domésticos e arriscam as relações com fornecedores internacionais a longo prazo?"
O avião Airbus A330 da Aeroflot taxia no aeroporto Sheremetyevo, em Moscou, na Rússia, em foto de arquivo de junho de 2013
Sergei Ivanov/AP/Arquivo
Quais empresas foram afetadas?
O levantamento da IBA indicou que a maior parte das aeronaves estrangeiras registradas em território russo pertencem à companhia irlandesa AerCap, que "perdeu" 49 aeronaves.
A empresa é proprietária de cerca de 1,6 mil aeronaves – uma das maiores frotas do mercado – e afirmou a investidores que as perdas russas representavam apenas 5% dos custos da frota.
A companhia disse ainda que teria recuperado, antes do início dos registros em território russo, ao menos 22 jatos e 3 motores, que escaparam.
A AerCap disse em março deste ano ter dado entrada em um pedido de resgate de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 17 bilhões) com sua seguradora.
As americanas Air Lease Corporation e Carlyle Aviation Management, e a também irlandesa SMBC Aviation Capital também foram afetadas pela medida e perderam suas aeronaves.
Resposta internacional
Com os aviões em circulação apenas em território nacional russo, a recuperação dos equipamentos registrados na Rússia se torna mais difícil.
Além disso, as sanções bloqueiam o acesso à manutenção e equipamentos produzidos por empresas ocidentais, o que levanta preocupações quanto à segurança das aeronaves.
Segundo o portal Aerotime, especializado no setor, o fechamento dos países para negócios com a Rússia pode forçar o gigante eurasiático a "canibalizar" suas próprias aeronaves para reformas.
Ainda de acordo com a consultoria, as companhias aéreas russas Aeroflot, Rossiya, Ural Airlines, Nordwind Airlines e Smartavia registraram ilegalmente aeronaves estrangeiras.
A prática fez com que a União Europeia adicionasse as companhias aéreas russas à sua lista negra de segurança aérea, impedindo sua passagem pelo espaço.