Dois médicos portugueses vão a julgamento nesta quinta-feira por um caso de negligência médica. O ocorrido foi em 2016, quando uma mulher entrou na sala de cirurgia para retirar uma mama e saiu de lá sem as duas. A mastectomia bilateral foi feita apesar do acordado com a paciente, Susana Tomé, três dias antes, de retirar apenas uma mama, a direita.
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Serão julgados o cirurgião do Hospital de São João, no Porto, com quem Susana combinou a mudança de planos três dias antes da cirurgia, e o médico que a observou no processo que levou à cirurgia. Segundo o portal português JN, os dois estão sendo acusados de "ofensa à integridade física por negligência".
Susana afirma que quer criar um movimento para alterar os prazos das queixas por negligência médica e garantir maior rapidez neste tipo de processo.
— Quero criar condições para pedir ao Parlamento a alteração dos prazos das queixas por negligência médica, a exemplo do que já foi feito para outro tipo de crimes. Esta luta não é só minha e apelo a mais vítimas para que se juntem num movimento. A classe médica e o Estado são parte interessada, não sendo de admirar que estes casos demorem tantos anos a ser julgados — diz, ao portal JN.
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Susana tinha um histórico familiar oncológico e, por isso, havia sido aconselhada a realizar uma mastectomia bilateral, ou seja, a remover completamente as duas mamas. Ela tinha dado o seu consentimento para a realização desse procedimento cirúrgico. Três dias antes da cirurgia, no entanto, no dia 4 de março de 2016, ela falou novamente com o médico e mudou o acordo, alterando o combinado anterior para que fosse retirada apenas a mama direita. No dia 7, quando saiu do centro cirúrgico, no entanto, Susana estava sem as duas mamas.
Uma troca repentina de cirurgiões pode ter sido crucial para o ocorrido. O médico que a acompanhava deixou a sala de cirurgia antes do começo do procedimento e, o que entrou para substituí-lo, supostamente ignorou o processo clínico da paciente registrado em papel e os avisos da anestesista e das duas enfermeiras no local.
Segundo o Tribunal do Porto, "a médica anestesista e as duas enfermeiras presentes alertaram o arguido cirugião para o fato de que era para fazer uma mastectomia unilateral, no caso à mama direita"
Após os avisos, o cirurgião teria consultado "o processo eletrônico da assistente, a fim de confirmar o procedimento cirúrgico a ser realizado". O problema viria a seguir, nas informações que faltavam no sistema eletrônico e que não foram confirmadas por ele nos papeis.
"Depois de verificar que constava uma única proposta terapêutica, a mastectomia bilateral, transmitiu essa informação ao restante da equipe, sem que, no entanto, e como se impunha, procedesse à consulta do processo clínico em suporte de papel, no qual constava o novo CIEL (Consentimento Informado, Esclarecido e Livre)", refere a decisão.
Agora, a dois dias do julgamento dos profissionais envolvidos no caso, Susana está confiante e espera que "a justiça seja feita".