Lugar de mulher é onde ela quiser! A frase pode até parecer clichê, mas é cada dia mais necessária e verdadeira. Elas são a maioria da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e estão ocupando cada dia mais as profissões antes conhecidas como masculinas.
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De acordo com dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre 2018 e 2021, houve aumento de 23% na presença de mulheres na construção civil em todo o Brasil.
Os dados mais recentes, de 2021, mostram que quase 251 mil mulheres ocupavam cargos no setor naquele ano. Em 2018, este mesmo número era de cerca de 204 mil.
O Espírito Santo acompanhou o crescimento da presença feminina nos canteiros de obras. Em 2018, eram 3.809 funcionárias com carteira assinada no setor. Em 2021, este número subiu para 4.681, cerca de 22%.
O número ainda é baixo em relação à quantidade de homens na construção civil e representa menos de 11% em todo o Brasil. No Espírito Santo, em 2021, elas eram cerca de 9% da mão-de-obra do setor.
A Giane Hermisdolfh, de 41 anos, é um exemplo da presença feminina nas obras. Mãe de duas filhas, ela trabalha como pedreira e tem orgulho da profissão que exerce há quase 17 anos.
"Em 2005 fui morar nos Estados Unidos e comecei a trabalhar em obras após um ano que estava lá. Voltei para o Brasil em 2012 e me dediquei mais a profissão. Tenho muito orgulho do meu trabalho e não me vejo trabalhando em outro ramo", disse.
Mesmo sendo um serviço pesado e que requer muito esforço, para a Giane não há tempo ruim. Além de prestar serviços para uma construtora, ela também trabalha como autônoma e, com isso, garante o sustento da família.
"A construção é um desafio todos os dias. Para mim, é sempre uma oportunidade de provar que posso executar um serviço com qualidade. Com esse trabalho, tenho minha independência financeira, graças a Deus", destaca.
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Para a secretária Extraordinária de Políticas para as Mulheres, Jacqueline Moraes, esse movimento de aumento da presença feminina no setor é natural, mas é preciso ficar de olho na igualdade salarial.
"Nosso cotidiano é de muito trabalho, e nós, mulheres, nos engajamos e organizamos com muita facilidade, resultando em boa gestão. Só chamo a atenção para o setor no que diz respeito à desigualdade salarial entre gêneros, que ainda é um problema estrutural no Brasil e imagino que na construção civil não seja diferente. Nesse sentido, é importante estarmos atentos à igualdade salarial e, também, que as incorporadoras invistam na realização de ações de qualificação para aprimorarmos, cada vez mais, essa nossa luta feminina", afirmou.
Um dos principais entraves na participação feminina no setor, destacou Ana Cláudia Gomes, presidente da Comissão de Responsabilidade Social (CRS) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), é o impacto financeiro nas empresas que precisam adequar o canteiro de obras para receber essas profissionais.
"Uma questão que é levantada por muitas empresas é sobre o dimensionamento das áreas de convivência nos canteiros. Elas começam a considerar o custo em ter que dobrar espaços como banheiros e vestiários, por exemplo. O que pode se tornar inviável para empresas menores", explicou.
Ana Cláudia destacou, contudo, que o número deve crescer de forma mais consistente nos próximos anos considerando fatores como o aumento da participação das mulheres nos cursos de engenharia. "A força produtiva no país é composta por mais de 50% de mulheres. Essa mulher precisa ser incluída na nossa indústria", destacou.
Mapeamento realizado pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) entre 2020 e 2022 mostrou que há mais de um milhão de engenheiros registrados no Brasil, dos quais apenas 211 mil são mulheres.
A diferença salarial é um desafio ainda apontado pelas mulheres no mercado de trabalho. Ana Cláudia Gomes apontou a ação da Comissão de Responsabilidade Social da CBIC para incentivar mudanças e preparar as empresas para receber e fomentar o crescimento profissional das mulheres. "É uma mudança cultural. Esse tem sido nosso desafio e é o que temos mostrado para as empresas", apontou.
A CRS prevê o lançamento de uma cartilha sobre diversidade e inclusão, a realização de trabalhos de qualificação de mulheres para a participação em cargos de liderança e a realização de pesquisa sobre a força de trabalho no setor, com o recorte na força de trabalho feminina.
"Queremos fornecer aos nossos associados e empresas informações relevantes que possam ser utilizados nos seus negócios. A CBIC tem o compromisso de auxiliar o ingresso e o crescimento dessa mulher na nossa indústria. Nós queremos, realmente, ser uma indústria cada vez mais desejada e onde essa mulher seja acolhida, recebida e que tenha a oportunidade de crescimento", concluiu.