Banco de alimentos tem o dobro de beneficiários do que antes da pandemia. A população da cidade é a quinta mais desfavorecida da Inglaterra em termos de renda e a sexta mais necessitada em empregos, segundo dados oficiais.
Sob o céu nublado da manhã em Bradford, norte da Inglaterra, um fluxo constante de pessoas se dirige ao banco de alimentos, em meio à mais grave crise de custo de vida em décadas que os fazem temer o inverno.
O banco de alimentos nesta antiga cidade industrial de 500.000 pessoas tem o dobro de beneficiários do que antes da pandemia.
"Desde que sou voluntário, os números continuam se multiplicando", disse Karl Carroll, 33, que foi beneficiário em 2019 antes de se oferecer para ajudar.
Simon Jackson, um desempregado de 43 anos que recebe auxílio-doença desde fevereiro, disse: "É um momento difícil agora".
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Depois de pagar as contas, não sobra muito de suas 900 libras da ajuda mensal. O aumento dos preços só piora as coisas.
"Lugares como este (banco de alimentos) salvam sua vida(...) quando, às vezes, precisamos escolher entre aquecimento e comida", acrescentou.
- Sobreviver -No centro de Bradford, as distribuições acontecem três vezes por semana e são limitadas a três pacotes a cada seis meses para atender a demanda. Existem produtos básicos como cereais, sopas, conservas, massas, legumes, biscoitos, açúcar, chá e café.
A população da cidade é a quinta mais desfavorecida da Inglaterra em termos de renda e a sexta mais necessitada em empregos, segundo dados oficiais.
"Aqueles que ganham menos são os que mais sofrem... Eles têm que comprar produtos básicos que subiram muito", disse Josie Barlow, diretora da organização Trussell Trust, que administra o local.
Ela cumprimenta as pessoas com muita energia e um sorriso, direcionando-as para a mesa de coleta, mas também para os conselheiros.
"Queremos dar um pacote de alimentos, mas também queremos ajudar as pessoas a enfrentar as causas de suas dificuldades", explicou.
Ela diz que é "parte da sociedade" onde coexistem desempregados e assalariados.
Para eles, "não há saída real", insiste, "não se pode esperar que as pessoas vivam assim, em crise, apenas para sobreviver a longo prazo".
Após semanas de hesitação, o governo de Boris Johnson anunciou na quinta-feira (26) 15 bilhões de libras de ajuda aos mais vulneráveis, prevendo um aumento de 42% nas contas de energia em outubro, após um aumento de 54% no mês passado.
É insuficiente para acalmar o medo de que o pior ainda está por vir. A inflação, já em 9% e com possíveis altas a seguir, vai engolir qualquer ajuda adicional.
"Tenho medo do inverno que se aproxima", disse a responsável pelo banco de alimentos, "realmente não sei como as pessoas vão sobreviver".