A crise econômica e social na Argentina tem feito os preços dispararem no país e não foi diferente com os telefones celulares. O modelo de celular da Apple Iphone 13 Pro Max 256GB Graphite, de acordo com o jornal "La Nacion", chegou a custar 1.007.149 pesos com 11% de desconto, conforme anunciado em sua plataforma pela única empresa de eletrodomésticos que o possuía em estoque, segundo o jornal argentino.
De acordo com dados do countryeconomy.com, o preço do produto equivale a aproximadamente 24 vezes o salário mínimo do país (42.240 pesos em junho).
Porém, no Mercado Livre, é possível encontrar o mesmo modelo, lançado pela Apple em setembro do ano passado, por aproximadamente 724.99 pesos. Em outras lojas como a Shopee, é possível encontrar o produto a 408.312.
Damián Di Pace, chefe da consultoria Focus Market, em entrevista ao jornal argentino, destacou que "não haverá mais" desses equipamentos, pois passaram a ser considerados bens de luxo.
A escalada no valor do Iphone aconteceu pela desvalorização da moeda argentina em relação ao dólar, afirmou Marcio Garcia, economista da PUC (Pontifícia Universidade Católica).
Entre janeiro e maio, o peso teve a maior queda frente a moeda norte-americana dentre a cesta latino-americana.
A perda de valor é resultado da inflação média anual do país nos últimos dez anos de 35%, que trouxe uma queda de 26% do poder aquisitivo do peso de um ano para o outro, além da instabilidade econômica e política na Argentina, aponta Josilmar Cordenonssi, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
"A principal causa da inflação argentina tem a ver com desajustes fiscais. A Argentina sempre financiou isso, particularmente nos últimos tempos, com emissão monetária, gerando a semente da inflação", afirma o economista Ariel Barraud, do Instituto Argentino de Análise Fiscal.
Barraud avalia que, além dos déficits fiscais crônicos e anos de políticas populistas, exacerbadas no governo do peronista Alberto Fernández, a pressão cambial e a expectativa da própria população de que os preços irão aumentar agravam o problema.
Já a professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Margarida Gutierrez explicou que a economia do país está despencando devido as políticas populistas colocas pelo atual governo e a taxa de câmbio controlada.
Com a ministra da Economia Silvina Batakis tomando posse em 4 de julho, os investidores começaram a temer por uma mudança para uma política econômica heterodoxa ou não ortodoxa, já que ela é mais alinhada com a ala de extrema-esquerda da coalizão peronista governista e quer mais gastos para aliviar os altos níveis de pobreza.
Assim, dificultaria ainda mais a possibilidade do governo da Argentina de honrar seus compromissos internacionais, destacou a professora. Para tal, a Argentina já fechou um acordo de dívida de US$ 45 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 25 de março.
O programa "visa fortalecer as finanças públicas e começar a reduzir a inflação persistentemente alta por meio de uma estratégia multifacetada que envolve a eliminação gradual do financiamento monetário do déficit fiscal e o aperfeiçoamento do arcabouço de política monetária e cambial", disse o FMI em comunicado.
Em relação as taxas de câmbio, o país sul-americano tem dados amplamente divergentes devido aos rígidos controles cambiais que limitam as compras em dólares a apenas US$ 200 por mês, empurrando as pessoas para mercados paralelos e informais, onde os dólares cobram prêmios muito mais altos.
"Ou seja, o valor que o governo da Argentina passa sobre o câmbio não é exatamente o valor real, pois, desconsidera o mercado paralelo e informal", detalha a professora da UFJ. Os controles cambiais em vigor desde 2019 mantiveram a taxa de câmbio oficial do peso em um caminho de enfraquecimento lento.
Outro aspecto apontado por Garcia que pode também interferir no preço do celular é "a Argentina ser cheia de impostos de importação".
Em outubro de 2021, o país divulgou um comunicado que afirmou ter concordado em aprovar a decisão do Mercosul de reduzir a 10% a Tarifa Externa Comum (TEC), taxa cobrada na importação de produtos de fora do bloco.
*Com informações da Reuters e de Luciana Taddeo, da CNN