O deputado estadual Adilson Espíndula (PDT) está na iminência de trocar de partido. Cotado para disputar a Prefeitura de Santa Maria de Jetibá em outubro, ele deve deixar a legenda de esquerda e migrar para uma sigla de centro-direita ou de direita, mas que esteja na base aliada do governo Casagrande.
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Adilson tem conversado com o União Brasil e com o PSD – sendo que está mais próximo deste último. Ele aguarda uma carta de anuência do PDT para entrar no TRE e oficializar sua saída, para não correr o risco de perder o mandato por infidelidade partidária. Nos bastidores, tudo tem sido costurado pelo governo do Estado.
O principal motivo da mudança seria o eleitorado do município. Santa Maria, assim como praticamente toda a Região Serrana do Estado, possui um eleitorado muito forte de direita e conservador.
Nas eleições presidenciais de 2022, Santa Maria deu vitória a Bolsonaro (PL). No 2º turno, o ex-presidente teve 69% dos votos válidos, mais que o dobro dos votos obtidos pelo presidente Lula, que teve 31% dos votos válidos no município.
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Estar num partido de esquerda, num eleitorado majoritariamente de direita, pode representar um obstáculo a mais durante a campanha eleitoral e seria isso que o deputado gostaria de evitar, mas não só isso.
O próprio Adilson Espíndula é um político de perfil mais à direita. Ele não é cria do PDT, pelo contrário. O deputado entrou no partido em 2022, nos 45 minutos do segundo tempo do prazo de filiação, para conseguir disputar a reeleição na Assembleia Legislativa.
O PDT acabou sendo o único partido que lhe abriu as portas após a confusão que ocorreu no PTB – partido de Roberto Jefferson, onde Adilson fez carreira política – e outros partidos de direita lhe fecharem as portas.
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A filiação de última hora foi benéfica ao deputado, que conseguiu se reeleger, e ao PDT, que conquistou duas cadeiras. Mas Adilson sempre ficou bastante deslocado ideologicamente no partido.
Adilson era presidente estadual do PTB, mas foi retirado do comando da legenda após uma intervenção nacional comandada por Roberto Jefferson em 2020. Em todo o País, os diretórios que eram coligados a partidos de centro-esquerda e esquerda – como no caso do Espírito Santo, onde o PTB fazia parte da base do governador Renato Casagrande (PSB) – foram destituídos.
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Uma confusão tomou conta do PTB nacional. Jefferson foi preso e a então aliada Graciela Nienov assumiu o comando da legenda. Porém, ela e Jefferson brigaram e uma nova eleição para a presidência do partido foi feita. Marcus Neskau assumiu, mas Graciela, de posse das senhas do partido, trocou diversos diretórios e o PTB voltou para as mãos de Adilson.
O retorno de Adilson ao comando do partido, porém, durou apenas uma semana. Teve novamente a legenda arrancada e ainda foi denunciado na Comissão de Ética, acusado de "traição".
Desprestigiado no PTB – onde foi eleito para cinco mandatos como vereador e um como deputado estadual – e temendo pela instabilidade interna do partido, Adilson resolveu mudar de legenda e acabou indo para o PDT.
O PDT deve dar a carta de anuência para que o deputado Adilson Espíndula deixe o partido sem correr o risco de perder o mandato. O parlamentar já pediu a liberação ao presidente estadual da legenda, Weverson Meireles, que já levou o assunto para o conhecimento de toda a Executiva estadual.
"Estamos em diálogo com a Executiva estadual para liberá-lo de maneira consensual", disse Weverson. Ele porém, não cravou uma data para essa liberação.
O presidente pedetista também confirmou que a negociação passa pelo Palácio Anchieta: "Tem diálogo com o governo sim". E que Adilson deve disputar as eleições deste ano.
Mesmo conseguindo a carta de anuência, Adilson deve entrar com uma ação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) para consolidar a decisão. Isso porque, o mandato pertence ao partido e ainda que o PDT não reivindique a cadeira, nada impede o suplente ou o Ministério Público Eleitoral de reivindicá-la.
Na semana passada foi aberta a janela partidária – também conhecida como janela da infidelidade – que possibilita que vereadores troquem de legenda para disputar as eleições. O prazo para as trocas vai até o dia 5 de abril, mas apenas vereadores estão incluídos nessa janela. Deputados só com a autorização do partido e/ou homologação da Justiça Eleitoral.
O presidente estadual do PSD, Renzo Vasconcelos, confirmou que tem mantido diálogo com Adilson e que "sente" que o deputado deve optar pela legenda. Renzo disse também que é seu "sonho" filiar o parlamentar.
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"Era meu sonho filiar ele e o Gandini. O deputado Gandini já está filiado e meu sentimento é que Adilson está bem próximo. Se vier para o partido, ele terá a legenda para disputar", disse Renzo.
Segundo o dirigente, o PSD deve ter 21 candidaturas próprias a prefeituras no Estado todo. Renzo mesmo vai disputar a Prefeitura de Colatina, seu reduto eleitoral.
O PSD é um partido de centro-direita e embora não ocupe posto no primeiro escalão do governo Casagrande, faz parte da base aliada. Adilson é aliado de Casagrande e, segundo a coluna apurou, o deputado não quer migrar para uma legenda que não caminhe, hoje, com o Palácio Anchieta.
Adilson foi procurado pela coluna, mas preferiu não se manifestar.