Empresa fez o comunicado por e-mail e informou que o serviço será interrompido a partir de 1º de junho. Mães temem o retrocesso no desenvolvimento dos filhos, que dependem da rotina e do tratamento.
Ao menos 20 mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), que vivem na Baixada Santista, foram surpreendidas com o cancelamento unilateral do plano de saúde Amil de seus filhos. Segundo o g1 apurou, nesta quarta-feira (8), a administradora de benefícios Qualicorp alegou que os contratos dos beneficiários com a operadora vêm "gerando prejuízo acumulado" (veja acima).
Mães ouvidas pela equipe de reportagem explicaram que os planos de saúde são da modalidade coletivo por adesão. Isto é, a Qualicorp atua como intermediadora e administra os contratos com coberturas oferecidas pela operadora Amil, que recebe o pagamento.
O pequeno Bernardo Barbosa, de sete anos, vive em Praia Grande (SP). Ele usa o plano de saúde há quase três para tratamento multidisciplinar, incluindo psicoterapia e psicopedagogia. Na noite da última terça-feira (30), a mãe dele recebeu o e-mail sobre a interrupção do contrato em 1 de junho.
"Eles deram 30 dias para que a gente simplesmente se virasse, e está 'tudo ok"", disse a dona de casa Marcelle Barbosa, que tem 36 anos, ao g1.
Segundo Marcelle, a clínica que o filho frequenta em Praia Grande (SP) apenas aceita o plano de saúde Amil — Foto: Arquivo pessoal
'Não querem nem saber'
"O meu filho precisa de terapia, faz ABA [Análise do Comportamento Aplicada] 19 horas semanais, quatro vezes por semana, e tudo bem, ele não vai morrer por causa disso. Mas vai trazer um atraso extraordinário para a vida dele se ele não fizer as terapias".
Assim como Marcelle, a moradora de Praia Grande Dayah Castro, de 39 anos, foi surpreendida pelo e-mail da Qualicorp na última terça-feira. Salomão Castro Silva, de 11 anos, também está no espectro e faz psicoterapia, fonoaudiologia e terapia ocupacional diariamente para manter o aprendizado.
Salomão, de 11 anos, precisa de cobertura do plano de saúde Amil para terapias — Foto: Arquivo pessoal
"A gente sabe que, em hipótese alguma, eles poderiam cancelar esse plano por eles estarem em tratamento. Mas, enfim, eles não querem saber", completou.
Apenas no último sábado (4), o advogado Marcelo Lavezo ajuizou 18 ações em nome de mães de crianças autistas da Baixada Santista. Há casos em diversas cidades, como Praia Grande, Guarujá, Santos e Peruíbe. Marcelle e Dayah o acionaram pouco após a notificação da administradora.
"Essa conduta vem sido caracterizada, reconhecida pelo Judiciário como abusiva. Porque a pessoa está no meio do tratamento, subentende-se que quando contratamos um plano de saúde é porque precisamos do tratamento. Então, se esse plano é cancelado no meio, é uma surpresa desagradável, no mínimo. Ilegal e abusiva".
Em nota, a Qualicorp afirmou ter sido apenas comunicada pela Amil sobre o cancelamento dos contratos. A companhia acrescentou que, na condição de administradora de benefícios, enviou a carta de cancelamento aos clientes, cumprindo o prazo de comunicação com antecedência de 30 dias, de acordo com o contrato firmado entre as partes.
Por fim, a Qualicorp declarou que apoia os próprios beneficiários, disponibilizando informações e orientações sobre o exercício da portabilidade, conforme o portfólio disponível e regras de comercialização das operadoras.